O acidente de Chernobyl, em 1986, resultou na maior libertação de material radioativo para o ambiente de sempre. Agora, após mais de 30 anos, encontra-se ali uma das maiores reservas naturais da Europa e muitas espécies ameaçadas encontraram um abrigo para viver e proliferar. Uma dessas espécies é a rã de San Antonio, Hyla Orientalis, que habitualmente apresenta um tom amarelo-esverdeado fluorescente, mas que em Chernobyl e nas redondezas prolifera com um tom negro.
A equipa da Universidade de Oviedo, com Germán Orizaola e Pablo Burraco, começou os trabalhos naquela região em 2016, quando detetou estas rãs com uma tonalidade negra, algo invulgar para a espécie. Habitualmente as rãs Hyla Orientalis são de um tom amarelo-esverdeado muito vivo, embora ocasionalmente se encontre um ou outro exemplar mais escuro. A equipa atribui esta coloração à melanina, que terá um efeito protetor contra os efeitos negativos da radiação ultravioleta, absorvendo e dissipando parte da energia das ondas radioativas. A melanina consegue ainda captar e reduzir o número de agentes radicais livres, o que diminui a probabilidade de danos celulares nos organismos.
Os investigadores passaram o tempo entre 2017 e 2019 a analisar mais de 200 espécimes machos capturados em 12 localidades no norte da Ucrânia. Estas localidades distribuem-se em áreas com uma grande amplitude de radiação, desde as zonas mais radioativas do planeta a outras com níveis básicos. O trabalho conclui que as rãs captadas perto de Chernobyl apresentam uma coloração mais escura do que as rãs apanhadas fora da Zona de Exclusão. No entanto, a equipa avança que o tom negro não está ligado à exposição atual à radiação, mas sim à exposição aquando do acidente nuclear, explica o The Conversation.
Os resultados parecem indiciar que estamos a assistir a uma evolução acelerada pela radiação. As rãs mais escuras na altura do acidente, e que habitualmente são uma minoria, acabaram por sobreviver e reproduzir-se com mais sucesso do que as suas ‘irmãs’ mais claras. Assim, volvidas dez gerações de rãs, assistimos a um processo clássico de seleção natural, o que ajuda a explicar porque é que nas zonas próximas do acidente predominam as rãs negras.
A equipa pretende continuar a explorar aquela região do mundo, esperando pelo cessar do conflito com a Rússia, e antevê que as descobertas possam ser aplicadas a novidades em campos como a gestão de resíduos nucleares e a exploração espacial, por exemplo.