“Os criadores de políticas devem olhar antes de saltar. O potencial atual das BECCS (sigla inglesa para Bioenergy with Carbon Capture and Storage) contrasta bastante com o papel proeminente que adquirem em vários cenários”, adverte o professor Michael Norton, diretor de programa da Academia Europeia de Ciências. A recomendação deste académico é que o papel das BECCS seja mais bem analisado antes de se decidir a atribuição de somas avultadas de investimentos públicos e de se esperar que esta possa ser uma das grandes soluções para o combate às alterações climáticas.
Os estudos mais recentes sobre as evidências da capacidade das BECCS para efetuar remoções substanciais de CO2 da atmosfera foram a base para esta recomendação da Academia, que conclui haver fraquezas na solução que estão muito bem escondidas, como os prazos diferentes de ‘retorno’ de carbono de acordo com as diferentes fontes. “Tal como há diferenças no conteúdo de carbono dos diferentes combustíveis fósseis, há diferenças significativas no impacto climático da bioenergia, dependendo da sua origem”, explica Norton em comunicado de imprensa.
Outro alerta dado é o de que os modelos das BECCS podem estar sobrestimados, nomeadamente porque as ferramentas de modelação climática assumem grandes taxas de redução que são preferidas às soluções de investimento para reduzir as emissões já. A minimização de custos tem uma dificuldade em lidar com as rápidas reduções nos custos de outras energias renováveis.
“Os criadores de políticas tendem a assumir que as BECCS vão não só remover massivamente o carbono da atmosfera, mas que o farão de forma técnica e economicamente exequível. No entanto, com as evidências atuais, os projetos BECCS devem ser de escala limitada, todas as fontes de energia devem ser fornecidas localmente e os tempos de retorno de carbono devem ser muito curtos”, recomenda o professor.
William Gillett, diretor de programa de Energia da Academia, clarifica que “não estamos a discutir que as BECCS nunca sejam uma opção. Mas até que as presunções subjacentes sobre as disponibilidades e tempos de retorno dos diferentes tipos de biomassa sejam refinadas, e os benefícios e exequibilidade das BECCS sejam evidenciados, a União Europeia e os governos nacionais não devem oferecer subsídios”.
A recomendação passa pela criação de metas de remoção de dióxido de carbono (CDR) separadas dos alvos de redução de emissões, para que as CDR sejam tratadas como um adicional às reduções de emissões.