A tecnologia do olho biónico Argus I e II prometia melhorar a vida dos pacientes com dificuldades visuais e acabou por ser escolhida por centenas de pessoas que optaram por colocar o olho biónico. Há já alguns anos que a empresa Second Sight abandonou o produto para se focar num implante cerebral e, à medida que o tempo passa, a tecnologia vai ficando obsoleta, deixando alguns utilizadores novamente com dificuldades visuais – mas neste caso por falta de reparações e atualizações ao hardware implantado. A solução para estes casos pode surgir quando se concluir a fusão da Second Sight com a Nano Precision Medical, mas isso poderá só acontecer em 2023.
Adam Mendelsohn, o diretor executivo da Nano Precision Medical, empresa que está interessada em comprar a Second Sight, foi confrontado com estas dificuldades e afirmou que pretende “tornar este assunto a nossa prioridade se e quando assumir a liderança da empresa conjunta”. A história foi descoberta pela publicação IEEE Spectrum que revela que os 350 pacientes que optaram pela solução da Second Sight só estão a receber apoio limitado por parte da empresa desde 2019, altura em que os responsáveis decidiram descontinuar os implantes de retina que substituem os fotorrecetores no olho para criar uma visão artificial. Uma utilizadora relata mesmo ter ficado novamente cega, por o seu olho biónico ter deixado de funcionar. E muitos outros temem que, quando houver uma avaria, fiquem na mesma situação por falta de suporte da Second Sight. Em 2020, a empresa esteve quase a abrir falência e acabou por mudar a estratégia para se focar no implante cerebral Orion que ajuda a criar visão artificial também, mas que funciona de forma diferente.
Na página online, ainda se pode ler que “à medida que a tecnologia melhora, também o implante Argus II vai melhorar – sem necessidade de cirurgias adicionais. Desfrute da flexibilidade de programação e da capacidade para atualizações de hardware e software futuras” – uma promessa que, à luz dos factos entretanto revelados, não se manteve.
Sem contar com a cirurgia nem com as horas de formação necessárias para os utilizadores, todo o sistema da Second Sight custa cerca de 150 mil dólares e inclui um implante, óculos com uma câmara integrada e uma unidade de processamento do vídeo que é colocada na zona da cintura do paciente. A câmara capta as imagens, envia-as para processamento, onde são convertidas em pixéis brancos e pretos e enviadas de novo para os óculos que depois as transmitem, sem fios, para a antena colocada fora do olho e onde são recriadas sob a forma de flashes de luz transmitidos para o implante no nervo ótico.
O IEEE Spectrum ouviu alguns pacientes que se queixaram de que os aparelhos deixaram de funcionar e que receberam pouco ou nenhum suporte pela Second Sight. A empresa justifica que, durante o período de dificuldades financeiras, teve de reduzir o número de trabalhadores o que poderá ter contribuído para tempos de resposta mais prolongados. Nesta fase, o compromisso é contactar médicos e pacientes para lhes dar algum apoio, mas não estão previstas substituições de peças ou reparações. A situação pode mudar caso avance a fusão com a Nano Precision Medical.