Uma equipa de cientistas do Instituo de Astrofísica e Ciências do Espaço usou o satélite CHEOPS da Agência Espacial Europeia (ESA) para observar a estrela Nu2 Lupi e os seus dois exoplanetas, sendo surpreendida pela presença de um terceiro planeta, aquático, com uma órbita de mais de cem dias e que também estava a transitar a estrela.
A estrela em questão pertence à constelação do Lobo (Lupi) e está a 48 anos-luz da Terra, sendo brilhante o suficiente para ser visível a olho nu. Os seus três planetas conhecidos foram detetados em 2019 pelo espectrógrafo HARPS, no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul, através do método das velocidades radiais. Os dois planetas mais interiores, com órbitas de 11,6 e 27,6 dias, conhecidos por Nu2 Lupi b e Nu2 Lupi c, transitavam a estrela, mas desconhecia-se que também o Nu2 Lupi d o fizesse, com uma órbita de 107 dias. Se orbitasse o Sol, o planeta ‘d’ situar-se-ia entre as órbitas de Mercúrio e Vénus.
Laetitia Delrez, da Universidade de Liège, explica que “tínhamos como objetivo prosseguir os estudos da estrela Nu2 Lupi e observar os exoplanetas ‘b’ e ‘c’ passar em frente à estrela, mas durante um trânsito do planeta ‘c’ reparámos em algo fantástico: um trânsito inesperado do planeta ‘d’ que orbita mais longe da estrela”.
Susana Barros, do IA e do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da UPorto, salienta a importância de estudar exoplanetas simultaneamente através dos métodos dos trânsitos e das velocidades radiais que, em conjunto, permitem “medir o diâmetro e inclinação da órbita e daí calcular a massa”.
Já Sérgio Sousa, da IA e UPorto e um dos representantes portugueses no conselho do consórcio do CHEOPS, sublinha que, apesar de ser uma pequena missão da ESA, o Cheops continua a demonstrar a sua enorme capacidade: “esta elevada precisão fotométrica só +e possível porque estamos a fazer observações fora da nossa atmosfera, ao mesmo tempo que tentamos perceber e corrigir erros sistemáticos nos instrumentos, característicos das observações do Cheops”.
O planeta ‘d’ tem cerca de 2,5 vezes o diâmetro da Terra, mas uma massa 8,8 vezes maior que o nosso planeta, com uma composição semelhante à do planeta ‘c’, envolvido em atmosfera de hidrogénio e hélio. Já o planeta ‘b’ parece ter uma composição sobretudo rochosa.