Entusiastas do fitness e amantes do exercício físico devem estar alerta sobre as consequências do excesso de treinos. Mikael Flockhart, que liderou um estudo publicado agora na Cell Metabolism, considera que “é um alerta de precaução que não é bom treinar demasiado”. O treino frequente e intensivo afeta a função das mitocôndrias (organismos celulares onde se produz a energia) e reduz a tolerância à glucose, resultando na redução do desempenho e em possíveis doenças.
“Devemos estar atentos a quando estamos demasiado cansados e aproveitar para parar um dia ou outro, não forçar, porque isso não faz necessariamente bem – e pode até piorar”, diz Flockhart. O estudo envolveu sujeitar um grupo de pessoas saudáveis e ativas, mas não atletas, em regimes cada vez mais intensivos. Os onze voluntários começaram com duas sessões num total de 36 minutos, com intervalo durante a primeira semana, até cinco sessões num total de 152 minutos na terceira semana. Numa entrevista com o Academic Times, os investigadores contam que “durante os intervalos, algumas pessoas sentavam-se a descansar e a gritar com dores ‘o que está a acontecer às minhas pernas’, ‘o que é isto’ e ‘sinto-me terrível’”.
No final de cada uma das três semanas do estudo, os académicos realizaram testes de tolerância à glucose e monitorizaram as dietas de cada participante, fizeram biópsias de músculos das coxas, para perceber a atividade nas mitocôndrias. Estas medições permitiram inferir que o stress oxidativo produzido pelo exercício anormalmente vigoroso pode resultar em danos mitocondriais e reduzir a capacidade de processamento de açúcares no organismo.
Os cientistas avançaram com medições do nível de açúcar nos organismos de 15 atletas de elite, especializados em treinos intensivos, e compararam com um grupo de controlo que treinava menos de sete horas por semana. Os atletas, surpreendentemente, passaram mais do dobro do tempo em intervalos de hiperglicemia do que o grupo de controlo, o que sugere disrupções no controlo de glicemia causadas pelo excesso de exercício.
“É por isso que não podemos passar de amador para elite e realizar o mesmo volume de exercícios. Temos de nos habituar ao exercício durante um maior período de tempo para nos podermos adaptar e criar tolerância. Quando sujeitamos o organismo a treinos intensivos, podemos ter consequências negativas”, conclui Flockhart.
O estudo completo pode ser lido aqui.