A superfície de Marte, árida, sem oxigénio e atingida por radiação solar mortal, não é um local aprazível para a vida humana. Agora, para resolver o problema da radiação, uma equipa de investigadores sugere que se construa a base junto da Hellas Planitia, uma cratera resultante do impacto de meteoros no passado. Nesse local, a exposição a radiação pode chegar aos 342 microsieverts por dia (unidade de medida de exposição). Apesar de o valor ser 25% superior ao que os astronautas enfrentam a bordo da Estação Espacial Internacional, é bastante mais baixo do que os 542 microsieverts por dia registados noutros locais de Marte.
A radiação no planeta ‘vermelho’ é mais forte nos pólos, pelo que a localização da bacia de Hellas Planitia, junto ao equador de Marte, favorece a construção de uma eventual base humana. Outro fator a favor deste local é o facto de estar a uma profundidade de mais de 7100 metros abaixo da linha da superfície, o que pode facultar uma proteção adicional.
Ainda assim, a dose máxima de radiação a que podemos estar expostos, de forma segura, é de 6200 microsieverts por dia, valor que os astronautas de Marte estariam expostos em apenas 19 dias.
Na Terra, o problema da radiação é resolvido devido à existência da magnetosfera, uma camada que nos protege do constante fluxo de raios eletromagnéticos que destruiriam as nossas células e ADN. Os astronautas da Apollo, que saíram desta proteção, indicaram sentir dores de cabeça, flashes de luz e cataratas em poucos dias, lembra a publicação Space.com.
A sugestão da Hellas Planitia detalha ainda a Hadriacus Mons, uma montanha formada como resultado da erupção de um vulcão. Os cientistas registam evidências de vários túneis de grandes dimensões, criados após a passagem de lava, processo que se verifica também na Terra. Os investigadores visitaram vários destes locais na Terra e detetaram um efeito de proteção contra a radiação. Extrapolando os cálculos para a realidade em Marte, a equipa indica que a exposição à radiação se cifraria nos 61 microsieverts por dia, valor ainda elevado, mas o equivalente a fazer raios-X dentais várias vezes por dia.
A proposta de localização desta equipa inclui outras potenciais vantagens, como a possibilidade de se selar os locais, pressurizá-los e climatizá-los, de forma a criar uma atmosfera mais habitável. Estes túneis de lava conferem proteções adicionais contra o impacto de micrometeoritos, de flutuações de temperaturas e outras substâncias potencialmente perigosas.
Pode ler o estudo completo publicado no arXiv.