O momento da verdade está marcado para as 8h45 de Portugal Continental – mas o lançamento ocorre a partir da base espacial de Kourou, na Guiana Francesa. Se tudo correr como previsto pelos cientistas e engenheiros da Agência Espacial Europeia (ESA), o minissatélite Cheops (de Characterising Exoplanet Satellite) partirá nessa data rumo ao espaço para recolher dados que vão permitir descrever com maior precisão diferentes exoplanetas – em especial as dimensões destes corpos celestes que se encontram fora do sistema solar. O projeto tem a liderança científica do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e conta ainda com a participação de duas empresas portuguesas e de uma subsidiária portuguesa de uma empresa espanhola. FreziteHP, LusoSpace, e a Deimos Engenharia são as três fornecedoras de tecnologias que prometem levar as cores nacionais a redescobrir novos mundos.
O Cheops parte para o espaço durante uma missão de 3,5 anos, com uma lista de exoplanetas já devidamente definida pela comunidade de astrónomos europeia. Os líderes do consórcio estimam que, depois de o satélite se posicionar numa órbita a 700 quilómetros da Terra, seja possível aproveitar cerca de 80% do período de observação útil do telescópio a bordo para a observação de diversos exoplanetas. O que poderá criar as condições necessárias para realizar entre 3000 e 5000 pedidos de observação e recolha de dados dos astrónomos que permanecem em Terra – muitos deles com a missão de descobrir um planeta que, potencialmente, poderá ter condições similares às da Terra, ou que, pelo menos, poderá albergar vida.
A captação de dados deverá privilegiar planetas com dimensões similares às da Terra ou, no limite, que possam chegar às de Neptuno. A missão vai recorrer a um fotómetro de alta precisão que capta informação do espetro visível até aos infravermelhos e que se encontra instalado no pequeno satélite cúbico de 1,5 metros de aresta. Prevê-se que, por dia, o Cheops envie para Terra 1,2 GB de dados.
«Se encontrar exoplanetas esteve longe de ser uma missão fácil – o primeiro foi descoberto apenas nos anos de 1990, três décadas depois do início da corrida espacial – a sua caracterização, por via da definição do tamanho, forma, composição ou parâmetros orbitais, é um desafio ainda maior. Procurando conhecer quais as condições para a formação de um planeta e o aparecimento de vida, a ESA vai lançar o minissatélite Cheops, que será um dos passageiros secundários do Soyuz-Fregat», explica Agência Espacial Portuguesa em comunicado.
A busca de exoplanetas que podem albergar vida só será possível através do trabalho levado a cabo por cientistas do IA e da Deimos Engenharia: nos últimos anos, os investigadores portugueses desenvolveram os cálculos que combinam perspetivas de observação, solicitações de astrónomos, planetas que podem ser observados a cada momento ou dados que se pretende estudar. Além da “escala” de observações, IA e Deimos desenvolveram um sistema de arquivo com dados sobre os diferentes corpos celestes, para uso da comunidade científica.
«Desenvolvemos dois dos componentes mais importantes do centro científico do Cheops, sendo o principal o sistema de planeamento, que vai recolher todos os pedidos de observação da comunidade científica ao longo da vida útil do satélite”, explica, em comunicado, Nuno Ávila, diretor-geral da Deimos Engenharia, empresa que pertence ao grupo espanhol Elecnor Deimos.
Nuno Santos, investigador do IA e representante de Portugal na missão Cheops, lembra que ainda se perfila um trabalho pela frente no que toca à caracterização dos exoplanetas: «já se conhecem cerca de 4000 planetas a orbitar outras estrelas, já sabemos que o sistema solar não é único no universo, mas há muitas perguntas em aberto».
O trabalho levado a cabo pelo IA e a Deimos foi dado a conhecer pela Exame Informática quando o Cheops ainda se encontrava em fase de desenvolvimento.
A FreziteHP, empresa sedeada no Porto, assume uma das missões mais críticas para o Cheops: o desenho das proteções térmicas de MLI (sigla em inglês para multicamada de isolamento), que deverão salvaguardar o satélite das elevadas temperaturas nas faces expostas diretamente ao sol sem a proteção de uma atmosfera como a terrestre, e as temperaturas próximas do zero absoluto (273 graus negativos) nas faces onde não há exposição solar.
«É como se fosse um trabalho de alfaiate. Tiramos as medidas, fazemos os padrões e com base nestes produzimos a ‘roupa’, depois fazemos uma prova para ver se está tudo bem. Se estiver tudo certo, avançamos com a instalação», refere Miguel Santos, responsável da FreziteHP, no comunicado da agência espacial portuguesa.
A participação portuguesa na missão espacial Cheops só fica encerrada com a LusoSpace. A particiapçaão desta startup especializada na indústria do Espaço está centrada no fornecimento de dois magnetómetros que deverão ser usados na navegação do satélite.