A Organização Mundial de Saúde (OMS) defendeu a proibição das técnicas de alteração genética de bebés humanos, que dá pelo nome de “Repetições Palindromicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas”, ou “Crispr” na sigla em inglês. A preocupação da OMS tem vindo a agravar desde que em novembro He Jiankui, o cientista chinês responsável por ter “editado” o primeiro bebé humano, revelou que pretendia levar a cabo mais experiências de alteração do genoma.
De acordo com a publicação Wired, a OMS solicitou aos governos e à comunidade científica que travem o desenvolvimento destas experiências pelo impacto que podem ter, no futuro da espécie humana. Na sexta-feira passada, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, sublinhou num comunicado que «as autoridades reguladoras de todos os países não deviam permitir que os trabalhos nesta área continuem, até que as implicações sejam devidamente estudadas.»
Em novembro passado, durante a Segunda Conferência Internacional sobre Edição do Genoma Humano em Hong Kong (Second International Summit on Human Genome Editing, em inglês), He Jiankui contou que das suas experiências nasceram duas meninas gémeas e que estava a caminho um terceiro bebé, que pelas contas pode já ter nascido, dado que na altura a mulher escolhida para a experiência estava nos meses iniciais da gravidez – algo que tem reforçado a preocupação da OMS dado que esta experiência levanta várias questões éticas.
Segundo a Wired, Fyodor Urnov, cientista e editor genético no Instituto Altius de Ciências Biomédicas, em Seatle, e na Universidade da Califórnia, considera que a tecnologia de modificação genética é ainda prematura e desnecessária de um ponto de vista médico.
«Quanto mais firme for a posição das autoridades médicas, melhor», disse, afirmando que não se trata apenas de «estabelecer uma regulamentação para trabalhar nesta área, porque por definição nada impede que alguém não as respeite» para continuar experiências com o genoma.
Em 2015, Urnov foi coautor de uma investigação, que dá pelo nome de Don’t Edit the Human Germ-line, na qual é feita uma abordagem sobre ética e os riscos da alteração da linha germinal humana.
Os Estados Unidos baniram já a edição da linha germinal humana. Em concreto, a lei americana impede que o gabinete de Administração de Bens Alimentares e Fármacos (US Food and Drug Administration) impede que sejam avaliados testes clínicos que envolvam a modificação de embriões humanos. Já na Rússia verifica-se o contrário, pois segundo a Wired, há pelo menos um cientista que prevê dar início a testes Crispr para prevenir o nascimento de pessoas com surdez hereditária.