O diagnóstico demora apenas três segundos: uma criança entre os dois e os seis anos de idade aproxima-se de um robô com 100 centímetros de altura, mostra as mãos e a cara e abre a boca – para depois seguir o caminho rumo à sala de aula como de costume. Em 2000 creches chinesas, o pequeno momento de inspeção já se tornou uma rotina. E é possível que venham a ser muitas mais. O governo chinês aplicou um novo regulamento que exige a creches e escolas que tomem medidas para supervisionar diariamente a saúde das crianças. Depois de testes levados a cabo depois de 2017, seguiu-se a instalação de robôs Walklake nas escolas chinesas como forma de garantir o respeito das novas regras.
Os robôs Walklake são estáticos – e por isso têm de ser as crianças a deslocar-se ao início do dia para junto deles para levarem a cabo a pequena inspeção.
Os robôs estão equipados com câmaras e sensores que permitem fazer o reconhecimento facial de cada criança, como ainda detetam erupções cutâneas, alterações na cor da pele, feridas ou olhos vermelhos. Os equipamentos instalados no autómato também permitem apurar a temperatura corporal que é essencial para detetar uma eventual febre.
Todos estes dados são analisados por algoritmos de inteligência artificial. No caso de ser detetado algum indicador fora dos padrões definidos para a idade o próprio sistema toma a iniciativa de notificar automaticamente os professores – ou enfermeiros que estejam presentes no local.
Além dos diagnósticos acelerados, os robôs Walklake poderão ainda assumir funções de vigilância, e eventualmente, lançarem o alerta quando verificam, através do sistema de reconhecimento facial, que uma pessoa desconhecida ou sem a devida autorização interage com uma das crianças. Os robôs têm vindo a ser comercializados pela Walklake com preços que oscilam entre 5080 e 6435 euros.
Apesar de poderem conter potenciais epidemias e doenças nos estados iniciais, estes diagnósticos robóticos levantam algumas questões: serão benéficos quando usados em ambiente escolar? E a privacidade de adultos e crianças é tida em conta?
No Reino Unido, o MailOnline já deu a conhecer duas formas dissonantes quanto à forma de encarar esta tendência: «Há diferenças culturais claras. Na China, as pessoas têm de aceitar a vigilância do governo, mas será que o britânico médio confia o suficiente na forma de funcionamento deste sistema?», lembrou Stephen Hughes, investigador da Universidade Anglia Ruskin, numa alusão à lógica securitária dos robôs Walklake. «Adotar este sistema faria sentido aqui (no Reino Unido). Pode potenciar a saúde nas escolas, evitando criar pressão junto do Sistema de Saúde Nacional, que tem limitações de recursos humanos e dinheiro», conclui Duc Pham, professor na University de Birmingham.