Uma equipa de investigadores liderada por Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IACE), acaba de anunciar a deteção de um vento meridional nos dois hemisférios de Vénus. A revelação, inédita até à data, pode abrir caminho para uma nova explicação científica da super-rotação da atmosfera do planeta vizinho. O estudo levado a cabo pelos astrónomos foi publicado hoje na revista científica Icarus.
«Através do estudo da radiação solar refletida no topo das nuvens de Vénus, Pedro Machado e a sua equipa identificaram, em ambos os hemisférios, uma componente de vento perpendicular ao equador, concordante com a circulação atmosférica característica de uma célula de Hadley3 e com uma velocidade média de 81 km/h», explica o IACE, em comunicado.
Com base em observações coordenadas da Venus Express, do telescópio Canada-France-Hawaii (CFHT) e do espetrógrafo de alta resolução ESPaDOnS, os astrónomos procederam à análise das variações do vento paralelo ao equador e vento zonal, ao longo do tempo, em várias localizações de Vénus.
O estudo estendeu-se ainda aos primeiros registos de vento meridional – que acaba de ser agora divulgado. Os próximos episódios deste estudo poderão passar pela identificação do «ramo do vento meridional a menor altitude em que o ar regressa ao equador», refere o comunicado do IACE.
Pedro Machado lembra que é um “mistério” da astronomia que pode ter ficado encerrado com a deteção dos ventos meridionais nos dois hemisférios de Vénus – até porque tanto as observações levadas a cabo a partir do solo ou pela sonda Venus Express nunca permitiram dissipar todas as dúvidas: «esta deteção é crucial para entender o transporte de energia entre a zona equatorial e as altas latitudes, trazendo luz a um fenómeno que há décadas permanece inexplicado e que é a super-rotação da atmosfera de Vénus».