Há vários filmes com um enredo parecido, mas desta vez é mesmo real. E sim, o suspense deverá durar bem mais que a típica hora e meia do cinema: A 8 de setembro vai descolar da base de Cabo Canaveral, EUA, um foguetão Atlas V 411 com uma sonda que terá como principal missão recolher amostras do solo do asteroide Bennu. O nome simpático do asteroide não permite ter a total noção do alcance da missão Osiris-Rex: a cada meia-dúzia de anos, Bennu passa nas imediações da Terra. Os cientistas dão como possível uma colisão no final do século 22. Muito antes disso – mais precisamente em 2023 – a missão Osiris-Rex já deverá ter sido concluída: ironicamente, o asteroide que ameaça a vida na Terra pode também revelar alguns dos principais segredos da formação do nosso Planeta.
Bennu não terá mais de 510 metros de comprimento. A página da missão suportada pela NASA e pela Universidade do Arizona ilustra-o como sendo pouco maior que a Torre Eiffel ou o Empire State Building. Em termos planetários não serão propriamente medidas de encher o olho, mas no que toca a uma colisão as estimativas são bem mais assombrosas: de acordo com especialistas da Universidade do Arizona, o impacto deste asteroide que viaja a 100 mil quilómetros por hora seria equivalente à detonação de três mil milhões de toneladas de carga altamente explosiva. O resultado não seria muito diferente daquele que terá sido registado há cerca de 66 milhões de anos, com a colisão de um asteroide de 10 quilómetros de comprimento que terá sido responsável pela eliminação de grande parte da vida na Terra.
«Estimamos que as probabilidades de impacto estejam fixadas em 1 para 2.700 algures entre 2175 e 2196», adianta Dante Lauretta, cientista da Universidade do Arizona, quando questionado pelo site RT. Pode parecer o pior prémio de todos de numa lotaria que, em princípio, ninguém vai ganhar, mas o próprio site da missão espacial que descola no início de setembro, logo lembra que o risco não é assim tão despiciendo: «(Bennu) completa uma órbita à volta do sol em 436.604 dias (1,2 anos) e ao cabo de seis anos passa muito próximo da Terra, a menos de 0,002 Unidades Astronómicas (nota de edição: 299.195,741 quilómetros, sendo que cada Unidade Astronómica corresponde a cerca de 149,6 milhões de quilómetros). Esta aproximação dá a Bennu uma grande probabilidade de colidir com a Terra no final do século 22».
A lei da probabilidade é favorável à vida no planeta Terra, mas há um fator de ordem física que é capaz de carregar os semblantes de alguns dos mais iminentes astrónomos: a trajetória de Bennu tem uma boa dose de imprevisibilidade devido a um denominado efeito de Yarkovsky, que resulta da absorção da energia solar. Essa energia é convertida em calor quando chega ao asteroide – e produz um efeito de propulsor, capaz de alterar o trajeto de Bennu, recorda o site RT.
A Osiris-Rex pretende ter um percurso bem mais previsível: a sonda não tripulada deverá começar por se elevar no Espaço durante 38 dias, até chegar a um ponto em que poderá iniciar uma órbita em torno do sol, que deverá ter uma duração de cerca de um ano. Mais tarde, a sonda deverá “apanhar” uma segunda boleia – desta feita trata-se do efeito gravitacional da Terra que a deverá encaminhar até Bennu em 2018. É por essa altura que serão ativados os propulsores que deverão encaminhar a sonda até ao asteroide.
O site da missão revela ainda que a sonda deverá passar cerca de um ano em observação, mapeamento e captação de imagens do asteroide. Só depois de esse período – e da escolha de um local de aterragem – será levada a cabo a aproximação a Bennu: a sonda deverá “tocar” no asteroide apenas durante período necessário de recolha de amostras. O que, no limite, poderá não durar mais de cinco segundos.
Durante essa operação deverá ser acionado um braço robotizado que expele nitrogénio em estado gasoso com o propósito de remexer o solo do asteroide e recolher detritos que servirão de amostras. Como nos melhores videojogos as tentativas para a recolha de amostra são limitadas: a carga de nitrogénio apenas permite a recolha de três amostras.
A descolagem de Bennu e o início da viagem de regresso à Terra estão previstos para março de 2021. Só em setembro de 2023 a sonda deverá chegar ao nosso Planeta. Nessa altura, os cientistas já poderão dedicar-se ao estudo das amostras e procurar as pistas que confirmam ou desmentem a teoria de Pansdermia, que relaciona a chegada da água à Terra após a colisão com asteroides da “idade” de Bennu, que conta já com mais de quatro mil milhões de anos.