Como é que a derrocada de duas barragens no Rio Doce pode afetar a costa Sul do Brasil? Martinho Marta Almeida começou por colocar a questão – e logo encontrou forma de lhe dar resposta com o desenvolvimento de uma simulação que permite saber como é que as lamas tóxicas que já vitimaram parte da fauna que vivia neste Rio do Estado de Minas Gerais estão a espalhar-se no oceano atlântico.
Num comunicado, o investigador do Departamento de Física da Universidade de Aveiro informa que, de acordo com as simulações, as lamas tóxicas, acumuladas devido à extração minérios, deverão estender-se ao longo de 100 quilómetros da costa, a sul da foz do Rio Doce. Além de afetarem a zona de Vitória, capital do Estado de Espírito Santo, a maré de lama deverá estender-se, nos próximos tempos, ainda mais para sul, refere o investigador da Universidade de Aveiro.
«Havendo uma probabilidade elevada de uma longa região costeira estar em contacto com um elevado rácio de água proveniente do rio, estas regiões estão e estarão em contacto com tudo o que de perigoso se encontrava nas barragens na altura do acidente, não só lamas cujo impacto em termos temporais pode ser curto, mas também químicos nocivos cuja diluição e efeitos no ambiente poderá durar décadas», alerta Martinho Marta Almeida.
Do acidente nas barragens de Bento Rodrigues e Santarém resultou a libertação de mais de 62 milhões de metros cúbicos de lamas tóxicas. Este fluxo devastador terá percorrido mais de 870 quilómetros antes de chegar ao oceano Atlântico. A empresa Samarco Mineradora já foi multada – mas as vilas e soterradas e as perdas ambientais deixaram os especialistas pessimistas quanto à recuperação dos danos causados por esta barragem.
Para fazer a simulação numérica deste acidente ocorrido a 5 de novembro, Martinho Marta Almeida recorreu ao modelo global oceânico Hycom, ao modelo de reanálise atmosférica CFSR e ao modelo de previsão global GFS. O investigador admite que a simulação numérica possa ser afinada com outras fontes de informação: «Devido à inexistência de dados reais de descarga do rio, utilizei descarga climatológica mensal. Note-se que o desconhecimento do caudal real pode ser uma fonte de erros importante».
No mapa inserido nesta página, pode ver a evolução das lamas tóxicas depois de desaguarem na foz do Rio Doce.