O que é que a matemática tem a ver com um acidente de viação? Guilhermina Torrão, investigadora do Grupo de Investigação em Tecnologia dos Transportes no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, respondeu à questão durante um doutoramento, que permitiu desenvolver modelos matemáticos que preveem a gravidade que um acidente de automóvel pode ter para os motoristas e passageiros.
Na Universidade de Aveiro, há a esperança de que os novos modelos de previsão possam ajudar equipas de emergência médica e bombeiros a prever os danos causados por um acidente ou um despiste, através da descrição da antiguidade e da cilindrada de um ou mais automóveis. Deste modo, as diferentes equipas de emergência já poderão saber de antemão que equipamentos deverão levar para o local onde ocorreu um acidente.
A investigação desenvolvida pela investigadora da Universidade de Aveiro permitiu distinguir acidentes com um único veículo e acidentes que envolvem, pelo menos, dois carros.
No comunicado da Universidade, Guilhermina Torrão elenca da seguinte forma os dois principais fatores que determinam a gravidade de um despiste de um único veículo: «o modelo de previsão do risco de gravidade identificou a idade e a cilindrada do veículo como estatisticamente significativas para a previsão de ocorrência de feridos graves ou de mortos».
A investigadora recorda que o facto de um veículo mais antigo não ter airbags ou outras soluções de segurança mais recentes pode aumentar os riscos para os passageiros. Guilhermina Torrão lembra ainda que a gravidade tenderá a aumentar quando o despiste envolve um carro com maior capacidade de aceleração (que costuma estar associada à cilindrada).
Nos acidentes que envolvem dois veículos, a previsão segue outros princípios: «os modelos de previsão do risco de gravidade do acidente revelaram que as consequências do acidente estão mais diretamente relacionadas com as características do outro veículo envolvido na colisão, do que propriamente com as características do veículo em análise», explica Guilhermina Torrão.
Com base neste ponto de partida, os novos modelos de previsão de gravidade revelam que a cilindrada do veículo oposto tende a aumentar os riscos para os ocupantes de um veículo que tenha sofrido uma colisão.
O comunicado da Universidade de Aveiro dá dois exemplos que ajudam a ilustrar as previsões de gravidade dos acidentes: num dos cenários prevê-se que, numa colisão com um veículo de 799 centímetros cúbicos, a ocorrência de mortes ou ferimentos graves tenha uma probabilidade de 12%; num segundo cenário, que analisa a colisão de um carro com com um veículo de 3600 cúbicos, a probabilidade de morte ou ferimentos graves chega aos 98%.
«Se a colisão envolver um veículo de grande cilindrada é quase certo que o acidente será grave», acrescenta a responsável pelo novo estudo que realça a importância de integrar dados descritivos do parque automóvel nacional nos indicadores de segurança rodoviária.
Além das equipas de emergência, os modelos de previsão poderão revelar-se úteis para a indústria automóvel repensar sistemas de aceleração e design de veículos, e também para as seguradoras estimarem os prémios a atribuir a cada veículo.