Ainda não existe, mas poderá vir um dia a surgir nos hospitais mais sofisticados: um armário que usa antenas que identificam automaticamente sacos consoante o tipo de sangue contêm. Para já, há apenas um protótipo. Foi desenvolvido pelas alunas de doutoramento do Instituto Superior Técnico Andela Zaric e Catarina Cruz e acaba de receber o primeiro prémio (1500 dólares) no prestigiado concurso Student Design Contest: Antennas for RFID Application, que é organizado pelo Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrotécnicos (IEEE, na sigla em inglês). O prémio foi entregue a semana passada em Memphis, EUA.
«No nosso trabalho usámos antenas de RFID em vez de códigos de barras. Os códigos de barras exigem o uso de leitores específicos, enquanto as antenas de RFID fazem a identificação automaticamente», explica Catarina Cruz.
As investigadoras do Técnico recordam ainda que a automatização permitida pelas antenas RFID tem ainda a vantagem de funcionar mesmo quando os doentes estão inconscientes ou a ficha clínica nas está nas proximidades.
Durante o projeto, as duas especialistas do doutoramento de engenharia eletrotécnica e de computadores criaram um protótipo de armário que, além de um computador que faz a gestão de todo o processo, contém três tipos de antenas: um primeiro grupo composto por antenas RFID que deverão estar incorporadas em cada saco de sangue; um segundo grupo de antenas RFID para cada compartimento que armazena os diferentes sacos de sangue consoante o tipo sanguíneo; e por fim, um terceiro grupo constituído por “antenas de campo próximo” (com a tecnologia Leaky Microstrip Line), que são colocadas sob cada gaveta que contém vários compartimentos de armazenamento de sacos de sangue.
O desenvolvimento do protótipo tinha como principal desafio a existência de líquidos (neste caso o sangue), que têm a particularidade de inibir as comunicações por rádio. A investigadora portuguesa e a investigadora croata que também trabalham no Instituto das Telecomunicações superaram esse desafio convertendo a dificuldade numa característica do sistema: o sistema deteta a entrada de sacos com sangue, através da inibição das antenas de RFID, mas são as “antenas de campo próximo” que indicam o tipo de sangue e número de sacos que se encontram em cada compartimento, num processo que é descrito pelas duas especialistas em tecnologias de antenas como de «pseudo-localização».
Catarina e Andela limitaram o seu trabalho ao desenvolvimento do denominado “armário do sangue”, mas admitem que, para se tornar prática, a solução exija que cada doente tenha uma antena RFID que comunica o tipo de sanguíneo, e ainda antenas nos espaços de um hospital ou unidade clínica onde se façam transfusões. Deste modo, o sistema ficará em condições de detetar erros relacionados com a troca de tipo sanguíneo, e eventualmente lançar alertas sonoros ou visíveis.
«O hospital poderá definir qual o tipo de alerta que poderá ser lançado», acrescenta Catarina Cruz.
Durante o concurso que reuniu 26 propostas de vários pontos do mundo, as duas investigadoras receberam várias demonstrações de interesse do júri e de representantes de empresas. Os tempos mais próximos dirão se as duas estudantes de doutoramento levam em frente o projeto.