Corria o revolucionário ano de 1975, quando Rui Barbosa se deparou com a ideia germinal que o levou a escrever o livro “Informática Futura”. Enquanto caminhava pelo bairro das Picoas, em Lisboa, um colega de tendências trotskistas, questiona a decisão de fazer das tecnologias profissão. «Disse-me que a informática apenas servia para matar ainda mais pessoas. E aí eu parei e disse para mim próprio: “eu não quero ser um sacana e não quero ganhar dinheiro a fazer mal às pessoas”», recorda Rui Barbosa.
Passados 38 anos, e com o Período Revolucionário em Curso (PREC) remetido para os manuais de história, Rui Barbosa está em vias de cumprir um dos objetivos de vida que começou a ser traçado nesse encontro de teor político, com a publicação do livro «Informática Futura», na próxima segunda-feira, no Espaço Multicultural Urban Science. O livro faz uma previsão quanto ao futuro da humanidade e das tecnologias: começa em 2020; salta para 2050; aponta para o ano 3200; vislumbra 4500; e perspetiva a galáxia dentro de 100 mil milhões de anos.
Rui Barbosa admite ter recorrido a uma fonte de inspiração neste livro que é simultaneamente um exercício de previsões e de recolha de informação sobre a evolução tecnológica: «O livro tem por base o trabalho feito por Michio Kaku, da Universidade de Nova Iorque, sobre o futuro da Física, da Biologia e da Informática. Aproveitei o esqueleto dado pelo Michio Kaku, que prevê sete etapas de desenvolvimento civilizacional, mas fui eu que coloquei a carne sobre esse esqueleto, com o objetivo de analisar qual será o futuro da informática».
O livro pretende ser de leitura fácil: «Todas as pessoas que tenham pelo menos frequentado o liceu vão conseguir perceber o que está escrito», garante o especialista em bases de dados e inteligência artificial, que muitos anos antes da publicação do livro, concluiu parte da sua missão de usar as tecnologias em benefício da sociedade humana com a abertura do primeiro “chapter” português da Associação Mundial de Trans-humanismo.
Para quem acha que o Homem estará sempre no centro do Universo, «Informática Futura» pode funcionar como o prenúncio de uma nova ordem. Nessa nova era, a tecnologia é o motor que ajuda a humanidade a superar limitações, mas também lhe pode retirar o protagonismo que hoje ostenta. Os exemplos futuristas são variados: robôs moleculares criados com um genoma artificial que se combinam tanto para produzir energia como para combater doenças; um cenário de singularidade tecnológica, em que os homens são subordinados e geridos por robôs e computadores; androides com cérebros que funcionam de igual modo que os dos humanos;a exploração da galáxia através de fábricas autorreplicantes; ou dispositivos tecnológicos tão minúsculos que ninguém dá por eles e que se conjugam para assumir diversas funções.
O livro, de 200 páginas, tem a chancela da editora brasileira Biblioteca 24 Horas. Atualmente Rui Barbosa está a negociar a publicação e distribuição com editoras portuguesas. Na Internet, é possível comprar exemplares em versão digital ou impressa na Amazon e na Google Books. O autor acredita que a Biblioteca 24 Horas poderá contribuir para «uma grande divulgação nas escolas brasileiras e no mercado lusófono em geral».
O livro de Rui Barbosa aponta pistas que levam a crer que, nas tecnologias, está tudo no início – e que o grande salto em frente ainda estar por dar. Aos 69 anos, o doutorado em Informática pela Universidade de Grenobles, mantém a fé católica como um último reduto espiritual que nenhuma tecnologia ou ciência podem superar: «A informática está numa evolução muito rápida e vai superar, do ponto de vista material, a inteligência humana, mesmo quando se soma toda a inteligência dos homens mais inteligentes do mundo. Mas esses computadores e máquinas nunca vão conseguir ter a vertente moral ou a relação com Deus que os homens têm».
O que nos reservam próximos milhões de anos
O livro «Informática Futura» dá a conhecer várias previsões quanto ao futuro da humanidade e das tecnologias. Eis algumas das mais curiosas:
2020: Os microprocessadores serão distribuídos pelas populações quase gratuitamente. Os governos deverão enveredar por uma democracia em tempo real.
2050: Sistemas energético, administrativo e político serão automatizados, recorrendo a inteligência artificial e de robôs com capacidade de aprendizagem.
2100: Conhecimento total do cérebro humano e possibilidade de criar cérebros artificiais que funcionam de modo análogo. Prevê-se ainda a possibilidade de descarregar a totalidade do conteúdo neuronal de um cérebro para suportes eletrónicos. Esta última possibilidade permitiria criar androides com a memória de uma pessoa – e poderia ser encarada como uma tentativa de alcançar a imortalidade. O que Rui Barbosa refuta: «Não é por passar um conteúdo para um robô que me torno imortal… mas acredito que um homem pode ser imortal enquanto Deus quiser».
3200 – Civilização planetária, que esgota fontes de energia na Terra, e passa a ir buscar energia diretamente ao Sol.
4500 – “Seres vivos” artificiais, criados a partir de nanorrobôs.
100 mil anos em diante: exploração de sistemas estelares da “nossa” galáxia através de fábricas autorreplicantes.