A 5 de setembro de 1977, no dia do lançamento da Voyager 1, ninguém teria a expectativa de que a sonda ainda estivesse em funcionamento aos dias de hoje. A verdade é que o aparelho se mantém funcional, mesmo estando a 24 mil milhões de quilómetros da Terra e esteja a passar por alguns problemas, nomeadamente com algumas peças a falharem. Quando tal acontece, as equipas na Terra têm de ser criativas para encontrar soluções que não afetem os restantes componentes.
Há alguns meses, os engenheiros perceberam que havia um problema com o tubo de combustível dentro de um dos propulsores da sonda, que estava entupido. Os propulsores são essenciais para manter a Voyager 1 estável e com a antena apontada para Terra, para poder receber comandos ou enviar dados. A solução encontrada passa por mudar para outro par de propulsores, mas não seria de execução fácil.
A Voyager 1 tem três conjuntos de propulsores, um dos quais dedicado a correções de trajetória. Agora que está numa rota inalterada para longe do Sistema Solar, só precisa de usar um dos conjuntos para manter a antena apontada para Terra. Para os alimentar, combustível líquido é convertido em gás e libertado em 40 pequenas doses por dia. Um resíduo desta operação, proveniente do desgaste do diafragma de borracha do tubo de combustível, acabou por levar ao entupimento deste e fez com que o propulsor gerasse menos força. Há seis anos, este tubo tinha um diâmetro de 0,25 milímetros e agora, com o entupimento, passou para os 0,035 milímetros ou metade de um cabelo humano, explica a CNN.
Com o passar do tempo, a equipa da missão Voyager (a gerir as sondas Voyager 1 e 2) tem vindo a desligar os sistemas não essenciais para aumentar a longevidade e manter energia, nomeadamente o calor. Assim, como alguns dos componentes estão mais frios e não se ligam imediatamente (por as sondas estarem cada vez mais distantes do Sol), a equipa teve de perceber o que teria de desligar para poder ativar os aquecedores dos propulsores. Os engenheiros optaram por desligar um dos aquecedores principais durante uma hora, para dar a possibilidade de ligar os aquecedores dos propulsores e executar a troca necessária.
O plano foi bem sucedido e a 27 de agosto a Voyager 1 passou a usar o ‘novo’ conjunto de propulsores para se manter em contacto com a Terra. Já em 1999 e 2019 tinha sido executada a mesma operação de troca na Voyager 2, mas esta sonda está numa situação menos crítica e mais próxima da Terra, situada a ‘apenas’ 20 mil milhões de quilómetros da Terra.