Duas condições colocaram Santa Maria, nos Açores, no radar da empresa americana de rastreamento espacial, LeoLabs: a geografia e a política, diz à Exame Informática o CEO da empresa, Dan Ceperley, que veio a Portugal para a inauguração de um novo radar, apresentado hoje, dia sete.
A posição geográfica, única, permite cobrir os satélites e os detritos que passam pelo Atlântico, numa região que vai da costa oeste de África até à costa este da América do Norte, permitindo inclusivamente apanhar satélites acabados de lançar. Do lado político, o executivo americano encontrou o “apoio” do Governo Regional dos Açores e da Agência Espacial Portuguesa, num contexto em que existem “várias organizações motivadas para o espaço”, diz-nos em Lisboa, antes da partida para a olha açoriana.
Para a escolha do local, também contou a existência de um teleporto, operado pela Thales/Edisoft, no qual já acontece o rastreio dos lançadores de satélites da Agência Espacial Europeia. “É um mercado que está a crescer muito rapidamente e nós queremos acompanhá-lo. Somos capazes de construir um radar em apenas um ano. E conseguimos fazê-lo facilmente em Santa Maria, com o apoio do Governo Regional e da Thales/Edisoft”, afirma o CEO.
Com uma estrutura única, patenteada, e um software próprio, a empresa fundada há pouco mais de seis anos, mas apoiada em 25 anos de investigação, é um dos líderes mundiais, num setor que está em franca expansão, tendo em conta o crescimento no número de satélites lançados todos os anos, sobretudo com a entrada em força dos privados no setor a que se tem vindo a chamar de New Space.
Além de rastrear os satélites, identificar a posição, sinalizar após o lançamento, o sistema da LeoLabs também monitoriza lixo espacial – para já, com dimensão até aos 10 centímetros, com o objetivo de chegar aos dois – e alerta para riscos de colisão. “Trata-se de uma empresa de referência a nível mundial, com serviços inovadores”, comenta o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, que ficou impedido de estar presente na inauguração devido ao cancelamento dos voos para os Açores, por causa da tempestade Oscar, tal como aconteceu com a Ministra da Ciência, Elvira Fortunato. “A Europa está a seguir este caminho, com algumas empresas interessadas em entrar no segmento da Gestão do Tráfego Aéreo”, adianta. Sendo que o objetivo é no futuro existirem vários fornecedores do serviço, num mercado que é necessariamente global. “Há mercado para absorver estes serviços.”
A rede de dez radares comerciais da LeoLabs, em operação na Costa Rica, Nova Zelândia e EUA, rastreia detritos espaciais e satélites em LEO, ou seja, em órbita baixa terrestre, onde está a grande maioria dos objetos espaciais e também a Estação Espacial Internacional, sendo certamente a região do espaço com mais problemas de trânsito. “Para o controle de tráfego aéreo são precisos radares e software para perceber por onde andam os aviões. Nós fazemos o mesmo, mas para o espaço”, compara Dan Ceperley. “Portanto, nós construímos radares pelo mundo, que monitorizam os satélites, e construímos o software que nos diz por onde andam os objetos, que alterações estão a decorrer e as potenciais ameaças”, detalha.
A empresa prevê manter a atividade por pelo menos duas décadas, com a intenção de “ser bom vizinho e membro da comunidade da ilha.”