A NASA anunciou nesta quarta-feira que chegou ao fim a missão da InSight em Marte, após o aparelho perder toda a sua energia. A sonda esteve a operar com recurso a energia solar durante quatro anos, mas o nível de poeiras acumuladas nos seus painéis fotovoltaicos é tão elevado agora que a sonda não consegue gerar energia suficiente para se manter operacional. O desfecho era aguardado há algum tempo, mas só agora é decretado o fim oficial da missão, depois de a InSight ter falhado duas ‘chamadas’ de volta para a Terra.
No dia 19 de dezembro, uma publicação da NASA na rede social Twitter já fazia antever o fim da missão da Insight. “Tenho a energia em baixo, por isso esta pode ser a última imagem que consigo enviar. Mas não se preocupem comigo: o meu tempo aqui foi tanto produtivo como sereno. Se conseguir continuar a falar com a equipa da minha missão, assim o farei – mas vou desligar-me em breve. Obrigado por me acompanharem.”, lê-se na publicação com a última imagem de Marte enviada pela InSight.
Bruce Banerdt, cientista planetário do JPL na Califórnia e líder da missão da InSight, já afirmara no início do ano que “na verdade, conseguimos fazer muito mais do que inicialmente pensávamos e prometemos. Sinto que, olhando para trás, esta foi uma missão bastante bem sucedida”, cita o Space.com.
O robô de 814 milhões de dólares foi lançado em 2018, chegou a Marte em seis meses e tem, desde então, enviado informação geológica relevante sobre o planeta ‘vermelho’. A InSight analisou as camadas de terreno desde a superfície até ao núcleo derretido e avaliou a atividade geológica no planeta, ‘sentindo’ e monitorizando os sismos ali ocorridos. “Nos locais que eram para ser mais difíceis, conseguimos obter a informação de que estávamos à procura, tornando a pesquisa e análises mais inteligentes. Nos locais onde Marte seria generoso, tivemos coisas a cair-nos no colo e que não esperávamos”, continua Banerdt.
Um dos principais desafios passou pela utilização do instrumento que iria perfurar o solo até cinco metros de profundidade para medir o nível de calor emanado pelo núcleo do planeta. A dificuldade evidencia que o solo por baixo da InSight é diferente do que o que existe noutras localizações. Em janeiro de 2021, a ‘Toupeira’, como é conhecido o instrumento, deixou de ser ativada, com alguma frustração dos investigadores que não conseguiram medir o fluxo de calor como pretendiam, mas ainda assim obtiveram alguma informação relevante.
Nos sucessos da sonda, está a análise da Fossa Cerberus, um local super ativo e de onde emanaram bastantes sismos: “Até onde conseguimos perceber, esta área super-ativa desafia a presunção de que Marte é frio e inativo. Permite-nos ver Marte não como um planeta uniforme, velho e morto”, explica Sue Smrekar, outra investigadora envolvida nestes trabalhos.
“Baseados nos dados que tínhamos disponíveis, tivemos de fazer bastantes assunções sobre o interior. Agora que temos dados concretos, temos uma imagem muito mais clara sobre o que se passa no interior do planeta”, continua Smrekar.
Os dados da sonda revelam que Marte tem pelo menos duas camadas no solo: uma superior que vai até dez quilómetros e que sofreu com os impactos extra-planetários e outra mais abaixo, com 40 quilómetros de espessura. A equipa ainda não sabe se esta distribuição é uniforme em todo o planeta ou só acontece na região agora analisada.
O nível de poeiras acumulado subiu tanto que há cerca de duas semanas a NASA já tinha alertado que possivelmente deixaria de receber notícias da InSight, o que se veio a verificar com a última ‘chamada’ a ser realizada a 15 de dezembro.