Desde que começou a ser planeado em 1996 até ao seu lançamento no dia de Natal, a história do telescópio espacial James Webb – da NASA, ESA e agência espacial canadiana – faz-se de avanços e recuos, de azares e incompetência, de cortes no financiamento e desentendimento acerca das prioridades científicas. “Demorou anos e anos a construir. Foi desastroso!”, comenta o professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, José Afonso. “É um equipamento muito complicado em termos de engenharia. E depois aconteceram muito erros pelo meio, alguns básicos, como a utilização de porcas e parafusos desadequados.”

Na reta final, já foram as condições meteorológicas na Guiana Francesa a obrigar a reagendar de 22 de dezembro, a data prevista inicialmente, para a manhã de 25 de dezembro. O que acabou por garantir uma data de lançamento memorável para esta missão igualmente memorável, que se espera venha a trazer novidades em vários campos da Física e das Astronomia, como a origem das galáxias, o Big Bang, planetas extrassolares, matéria negra. Tudo graças à sua poderosa e precisa ‘visão’ de infravermelhos, que tornará possível observar objetos nunca antes detetados, através da poeira estelar e sem o efeito da atmosfera terrestre, já que estará bem longe da Terra, a 1,5 milhões de quilómetros.
O facto de estar a esta distância, em vez dos bem mais corriqueiros 540 quilómetros do telescópio Hubble, impossibilitam qualquer manobra de manutenção. “Não há margem para erro e os testes intensivos no solo são a nossa melhor forma de preparação”, sublinha Catarina Alves de Oliveira, cientista das Agência Espacial Europeia (ESA), sendo responsável por um dos instrumentos do Webb (também conhecido pelo sigla JWST), o espectógrafo NIRSpec, no site da Agência Espacial Portuguesa. Já uns dias antes do lançamento o administrador da Nasa, Bill Nelson, tinha avisado que havia “mais de 300 coisas” que poderiam correr mal e pôr o lançamento em risco.

Nenhuma falha aconteceu e até agora o James Webb tem vindo a seguir o seu rumo, até ao ponto ‘mágico’, de equilíbrio de forças, conhecido como L2, na parte exterior da órbita terrestre. No dia 26, tal como o previsto, abriu a sua super antena que passou nos testes de operacionalidade sem mácula. Mas até chegar ao destino, o que demorará trinta dias, “ainda podem acontecer muitas coisas”, admite José Afonso, que conta vir a usar dados o telescópio para estudar os quasares, núcleos galáticos muito luminosos, alimentados por um buraco negro . “Ao longo do percurso até ao L2 há muitas coisinhas a desdobrar, montar, correções de trajetória a fazer”, explica. Não é ainda tempo de respirar de alívio, admite: “é um mês de ansiedade para os astrónomos. Continuamos a roer as unhas.”