No famoso Relatório Porter, encomendado em 1994 pelo então Primeiro-Ministro Cavaco Silva ao economista e professor de Harvard Michael Porter, alertava-se para a necessidade de reindustrializar a economia portuguesa. Apelando a uma mudança de paradigma, Porter vaticinou que esta devia deixar de se basear em baixos salários e na exploração dos recursos naturais, para se tornar competitiva em mercados mais ambiciosos, como o europeu. Quase trinta anos passados, o problema continua a ser mais ou menos o mesmo e afeta todo o continente. Para dar a volta por cima, o Velho Continente tem de olhar para os átomos, para a nano-escala. É sobre isso que se falará hoje e amanhã, durante o EuroNanoForum, o maior fórum de networking da Europa com foco em nanotecnologias e ciência avançada de materiais, inovação e negócios, organizado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
Realizado em formato digital, o encontro irá juntar especialistas internacionais que irão discutir o papel da nanotecnologia e o potencial de manipular os materiais ao nível do átomo para obter novas propriedades e resolver os grandes problemas da atualidade, como sejam a produção de energia e a construção sustentável e com isto impulsionar a economia. “A Europa tem vindo a perder terreno e a desindustrializar-se. A inversão deste caminho tem de passar forçosamente pela nanotecnologia”, afirma Jorge Fiens, diretor de comunicação e marketing do INL.
Tornar os processos de produção mais sustentáveis e cumprir as metas estabelecidas pelo Green Deal europeu, assumido em 2019 e que preconiza que a Europa venha a ser o primeiro continente neutro em emissões de carbono, em 2050, também será discutido pelos intervenientes, assim como as aplicações na área da saúde e na dita medicina personalizada e à feita à medida, como um fato de alfaiate.
Um bom exemplo desta ‘magia’ que acontece quando se estreita o campo de ação e se passa para os constituintes elementares da matéria é o carbono e os diferentes materiais a que dá origem: está na ponta do lápis, no diamante ou no grafeno. E em cada um destes, com propriedades bastante diferentes. Ou de outra forma, podemos pensar no leite, que depois de ‘reorganizado’ se transforma em manteiga.
Mais de 2100 pessoas, de 140 países, estão inscritas no encontro que apesar de virtual também terá uma área expositiva, com participação de empresas e apresentação de pósteres científicos.