Há milhares de portugueses que nunca entregaram para reciclagem qualquer tipo de equipamento elétrico ou eletrónico. O estudo sobre os “Hábitos dos Portugueses em relação ao lixo eletrónico” revela que 33,8% da população continua a não dar seguimento ao lixo eletrónico. Há vários fatores que explicam esta incapacidade de entregar à reciclagem, por exemplo, um telemóvel antigo. Os mais frequentes, apurado no estudo feito pela Qdata, é a esperança que o equipamento ainda possa ter uma utilização futura. Quase 60% dos inquiridos no estudo que foi feito para a ERP Portugal e para a LG Portugal, referem que os dispositivos “ainda podem dar jeito” – até para peças ou para vender.
Diz o mesmo estudo que: “Se juntarmos os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos -REEE guardados em casa à espera de melhores dias ou de novos recomeços a todos aqueles que 33,8% dos portugueses que não os reciclam, temos milhares de toneladas de equipamentos fora dos circuitos adequados de reciclagem e/ou reutilização”.
Foi este racional, o de promover uma maior literacia sobre a reciclagem REEE, que levou a ERP Portugal e a LG Portugal, com a colaboração da Startup Lisboa, a criarem a competição de empreendedorismo: e-Waste Open Innovation.
À procura de ideias
Criada o ano passado, a competição tinha 3 desafios bem identificados: Acumulação, Localização, Incentivos. O primeiro, promovia ideias que incentivassem o encaminhamento dos REEE para a reciclagem; o segundo, desafiava a criação de soluções tecnológicas para que os resíduos não acabem em circuitos informais; o terceiro, a exploração de soluções de recompensa para a mudança de comportamentos.
A competição teve uma primeira fase onde foram aceites candidaturas de startups e empreendedores. Uma seleção feita pelas três entidades já referidas apurou 5 finalistas. Passou-se, então, a uma fase de mentoria e acompanhamento das ideias escolhidas. Trabalho realizado com os vários parceiros associados ao e-Waste Open Innovation. A final ocorreu num evento digital com a presença de um júri muito eclético do qual a Exame Informática teve o privilégio de fazer parte. Numa escolha difícil, devido à elevada qualidade dos projetos, o júri selecionou três vencedores. O primeiro lugar, foi para a Trash4Goods, o segundo para a PhoneHut e o terceiro para a Byewaste – uma startup baseada em Roterdão, na Holanda.
As equipas premiadas recebem, respetivamente, 15 mil euros, 3 500 euros e 1500 euros. Mas não só. Todos os projetos vão contar com o apoio contínuo da ERP Portugal e da LG Portugal e as startups têm acesso a um período de incubação na Startup Lisboa de 3 meses.
Os vencedores
A Trash4Goods é uma startup composta por alunos do Instituto Superior Técnico. Uma equipa jovem que desenvolveu uma solução que conjuga uma solução de software com outra de hardware. Materializa-se a ideia numa app que comunica com uma pequena caixa colocada nos contentores para a recolha de REEE.
A aplicação comunica com o módulo e-Waste através de um código QR pessoal que ao ser lido pelo leitor presente no módulo, irá emparelhar o utilizador com o sistema. No lado do ponto de recolha existirá um operador que irá registar as quantidades e os tipos de REEEs recolhidos, de forma que o sistema atribua os pontos de forma automática. Uma conjugação de dados recolhidos permite saber, entre outras coisas, quem depositou equipamentos para reciclagem dentro do contentor. A app desempenha um papel essencial: o de promover a gamificação do comportamento. Quer isto dizer que é criado um fluxo de desafios e recompensas que vão desafiar e premiar quem mais reciclar. Um movimento que pode envolver o comércio local com a oferta de descontos, por exemplo. O júri da competição destacou o engenho da solução que promove a economia circular e a entrega de uma vasta gama de produtos.
A PhoneHut apresenta uma solução mais ambiciosa do ponto de vista técnico: a criação de um quiosque para a entrega de smartphones em fim de vida. Uma abordagem que permite envolver os donos dos equipamentos, os retalhistas e, por exemplo, os fabricantes.
O projeto de engenharia da startup portuguesa permite aos utilizadores ligaram os equipamentos ao quiosque e terem acesso a um diagnóstico e desinfeção do dispositivo. Este diagnóstico devolve o valor monetário atribuído ao equipamento, de acordo com os dois destinos disponíveis: a entrega para posterior recolha e reciclagem a cargo da ERP Portugal, ou a retoma para posterior recuperação e comercialização. Uma solução que tem custos de implementação mais ambiciosos e uma complexidade técnica elevada, mas que o júri considerou ser muito pertinente e capaz de promover, com eficácia, a entrega de equipamentos.
Finalmente, em terceiro lugar, ficou a ByeWaste, uma solução tecnológica que já está a funcionar na Holanda e que os empreendedores se propõem a fazer um teste piloto no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. O projeto é ambicioso: uma app permite ao cidadão requisitar uma recolha à sua porta do REEE que está disponível para entrega. A solução junta cidadãos, às autarquias, empresas e comércio local. Isto porque a app promove um sistema de recompensas (descontos, entre outras) e reconhece quem mais recicla. Uma solução que agradou muito ao júri, mesmo tendo em conta que em Portugal ainda são necessárias várias mudanças (ao nível do poder local, por exemplo) para que algo deste género seja exequível.
Para o futuro
A e-Waste Open Innovation teve ainda mais 2 finalistas: a Personificação dos REEE e a SmartWaste. Ambas portuguesas, a primeira trata-se de um projeto que promove a reciclagem de REEE numa lógica de crowdfunding; a segunda, é um projeto de engenharia com contentores inteligentes e uma app que controla e promove a reciclagem.
Em Portugal mais de 30% da população ainda não tem o hábito de encaminhar e reciclar o lixo eletrónico. Além de terem um impacto negativo no ambiente, estes resíduos quando não são corretamente tratados revelam-se um risco para a saúde. Eles contêm substâncias tóxicas nocivas, como o mercúrio, que podem causar doenças neurológicas e afetar o sistema de coordenação.
A nível mundial, segundo a ONU, apenas 15 a 20% do lixo eletrónico é reciclado.