A inovação é frequentemente retratada como uma força motriz da sociedade moderna, que impulsiona a humanidade em direção a um futuro melhor. É celebrada pela sua capacidade de transformar indústrias, melhorar vidas, moldar o curso da história – no limite vista até como uma chave para salvar o nosso planeta nas próximas décadas. Mas, como diria Rui Veloso, “toda a alma tem uma face negra” e a inovação não foge à regra.
Tal como a lua tem um lado que não é visível da Terra, a inovação pode ter características ou tendências que não são imediatamente evidentes ou que podem ter consequências indesejadas, por vezes perversas. Mas será que esse lado obscuro merece apenas a nossa preocupação, ou há espaço para enfrentar as suas sombras?
Quem trabalha diariamente numa equipa de inovação e na busca incessante por abordagens criativas a novos modelos de negócio sustentáveis e tecnologias disruptivas, sabe que é fácil ficar obcecado pelo entusiasmo. No entanto, à medida que mergulhamos mais fundo nessa galáxia de possibilidades infinitas, também nos deparamos com desafios e dilemas que muitas vezes são esquecidos ou negligenciados.
Um dos desafios mais prementes que temos enfrentado no Innovation Ecosystem da Nova SBE é o equilíbrio entre a rapidez do processo de inovação e a análise critica e cuidadosa das suas implicações éticas, sociais, culturais, económicas, ambientais e politicas. Num contexto em que a pressão por resultados imediatos e aplicáveis muitas vezes domina em oposição a uma visão de longo prazo, torna-se difícil não sucumbir à tentação.
A inovação nem sempre é benigna. Como profissionais de inovação, reconhecemos a importância de uma abordagem mais holística, consciente, equilibrada e responsável que valoriza não apenas a novidade, mas também o impacto positivo e duradouro que os nossos esforços podem ter na sociedade como um todo.
Além disso, a inovação muitas vezes enfrenta resistência e desconfiança, especialmente quando desafia o status quo ou ameaça interesses estabelecidos. Como agentes de mudança, estamos constantemente a viajar em órbitas desconhecidas, enfrentando o ceticismo e a oposição à medida que procuramos implementar novas ideias e práticas. No entanto, é precisamente essa resistência que nos estimula a criatividade e a colaboração, que nos desafia a ser mais resilientes e determinados em correr riscos para resolver problemas e procurar soluções face aos desafios complexos que enfrentamos.
Outro aspecto do lado lunar da inovação é a necessidade de lidar com falhas e contratempos. Nem todas as ideias serão bem-sucedidas e nem todos os projetos serão concluídos conforme planeado. No entanto, reconhecemos que o fracasso é uma parte essencial do processo de inovação e que é através da experimentação e aprendizagem contínua que podemos alcançar avanços significativos.
Apesar do seu lado lunar, acredito firmemente no lado solar da inovação e no seu poder transformador para promover o progresso e o bem-estar da sociedade como um todo. Reconhecendo que a nossa jornada será repleta de emoção e obstáculos, quem trabalha em inovação com paixão, energia, visão, e os valores necessários, tem não apenas o privilégio, mas acima de tudo a responsabilidade de moldar o curso da história de forma positiva – e deve abraçar esses novos desafios e oportunidades com humildade, determinação e um compromisso inabalável de criar um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.
