É difícil começar um artigo sem referir a pandemia e as suas consequências nos mais diversos setores e aspetos da vida dos portugueses – e a nível global. A aceleração da digitalização das empresas tem sido uma das mais destacadas, pelo papel imprescindível que assumiu na hora de assegurar a continuidade dos negócios. Contudo, dentro de cada empresa, assistiu-se também a um fenómeno do qual apenas alguns se aperceberam: o “renascer” das funções de Recursos Humanos.
Na minha visão, esta nunca foi uma função desnecessária, muito pelo contrário, mas a verdade é que, em 2018, muitos empregadores não tinham planos para aumentar as equipas de Recursos Humanos e alguns consideravam mesmo a sua redução. Dois anos depois, também esta área se viu digitalizada, com as organizações a investirem em HR Tech e a contratarem mais – um aumento líquido de 40% no número de colaboradores por parte das empresas que mais planeiam automatizar.
O que mudou? As áreas de Recursos Humanos estão hoje no centro da estratégia das empresas. E as suas prioridades são diferentes O contexto atual exige colaboradores saudáveis e resilientes, física e mentalmente, fatores que se assumiram como críticos para as empresas. Em Portugal, 41% dos responsáveis de RH encaram a saúde e o bem-estar dos colaboradores como a sua prioridade mais importante, antecedida apenas pela implementação de novos modelos de trabalho (53%).
Acentuou-se a Skills Revolution
Adicionalmente, é também missão dos responsáveis de RH gerirem o upskill e reskill dos colaboradores – igualmente prioritários para 41% dos inquiridos em Portugal –, instrumentos necessários e urgentes perante o cenário de recuperação do mercado de trabalho em K a que estamos a assistir. O que observamos é que os setores em crescimento e as pessoas que já possuem competências com elevada procura estão a recuperar mais rapidamente, enquanto outros, sem essas competências, correm o risco de ficar para trás. Esta necessidade acentua-se quando observamos que as empresas que estão a investir mais na digitalização, na qualificação dos seus colaboradores e na inovação estão a conquistar uma maior quota de mercado, distanciando-se da concorrência e oferecendo maiores benefícios a colaboradores e clientes.
Em Portugal, 90% dos empregadores que estão a automatizar planeiam aumentar ou manter o número de colaboradores. É, por isso, urgente que os trabalhadores desenvolvam as competências para assumirem as novas funções e serem parte ativa do processo de transformação digital das empresas. Ajudar as pessoas na sua qualificação e requalificação, facilitando o acesso às funções com maior procura continua a ser o desafio decisivo desta década.
Por fim, na procura de novos perfis para assegurar o crescimento das organizações, as equipas de RH têm ainda um novo desafio, acelerado igualmente pelo cenário pandémico: as soft skills ganharam uma relevância e imprescindibilidade únicas. Os modelos de trabalho atuais e futuros exigem pessoas com capacidade de comunicação e de gestão de prioridades, que demonstrem adaptabilidade, pensamento analítico, iniciativa e empatia. Estas competências são hoje mais valorizadas e procuradas do que nunca – são a espinha dorsal do sucesso.
Mas as soft skills são difíceis de identificar e de desenvolver. Enquanto 33% das organizações dizem que é difícil formar nas competências técnicas mais procuradas, 54% afirmam que é ainda mais difícil desenvolver as competências comportamentais de que necessitam, como o pensamento analítico e a comunicação. E, muito embora as competências técnicas sejam importantes, os últimos meses demonstraram a que ponto as soft skills são a base para construir resiliência a longo prazo, motivação pela aprendizagem e desenvolvimento e uma maior empregabilidade.
Neste novo futuro do trabalho, ter as soft skills certas será ainda mais essencial à medida que as organizações se transformam e digitalizam em velocidade e em escala. O maior desafio, contudo, será trazer todas as pessoas para esta transformação, garantindo que ninguém fica para trás.