Se houve alguma lição que tiramos da crise de 2008, foi a de claramente as empresas conseguirem ter a capacidade de diversificar o risco da sua atividade, e não estarem dependentes do mesmo cliente, do mesmo mercado. Uma das soluções que muitos encontraram foi a de internacionalizar o seu negócio, exportar a sua atividade e o seu know how. Nomeadamente, empresas que não exportam produtos e que na sua génese não interagiam com o mercado internacional, que muitas vezes e sobretudo nos serviços, seria à primeira vista, difícil e muito exigente internacionalizar a sua atividade.
Com o mote de think global act local, inúmeras empresas conseguiram conquistar mercados externos, vendendo muitas vezes o seu know how, conseguindo assim equilibrar a balança comercial e suprindo o decréscimo de poder de compra do mercado nacional. Esta internacionalização é de tal maneira estratégica para a economia que foi apoiada pelo Estado que criou instrumentos, como as linhas de apoio à internacionalização. Esta iniciativa foi seguida de perto pela banca comercial, que também viu nesta estratégia uma oportunidade de financiar as empresas aumentando assim o seu portefólio de oferta de produtos de crédito.
Hoje temos empresas em Portugal onde a sua atividade nos mercados externos é substancialmente maior que no mercado interno, o caso da EDP e GALP. Temos indústrias no setor primário, o caso da cortiça onde as empresas conseguiram dar valor acrescentado a esta matéria prima, não se ficando apenas pelas rolhas, mas tornando Portugal líder de mercado a nível mundial em produtos transformados a partir da cortiça, como revestimentos e pavimentos, peças de decoração, roupa, tornaram empresas de produção em empresas exportadoras, um claro exemplo do poder que a internacionalização teve na reinvenção do negócio.
A internacionalização foi e continua a ser uma ferramenta muito útil de reposta à crise, forçou as empresas a reinventarem-se na gestão diária, deu experiência aos gestores das melhores práticas, vendo o que se faz lá fora. Nos últimos anos, os empresários portugueses fizeram este esforço, no sentido de alterar um modelo de atividade económica antiquado e de certa forma atávico, virado quase que exclusivamente para o mercado interno, muitas vezes menos exigente nos critérios de sofisticação e até de qualidade, para arriscarem e re-imaginarem a sua atividade empresarial em outras geografias.
Em conclusão, a internacionalização pode ser uma enorme mais valia, quando feita com estratégia, bem apoiada, com estudos muito bem feitos relativamente aos mercados onde as empresas se querem instalar, conhecendo bem e respeitando as características desses mesmos mercados, dos costumes, tradições, pelo respeito das normas vigentes, evitando surpresas e custos desnecessários, isto porque a internacionalização feita com pouca preparação, pode não ser benéfica, e em vez de uma reposta à crise, ser como muitas vezes assistimos ao fim das empresas.