Um dos dilemas do CIO quando passa para a fase de execução do seu plano de sistemas de informação é decidir que atividades devem ser asseguradas por pessoas da sua equipa interna e o que deve contratar externamente.
As vantagens e desafios de cada uma das opções são sobejamente conhecidas e normalmente elencadas a favor de uma ou outra opção com base em experiências passadas e não com informação objetiva e demasiadas vezes emocional. Falamos em acesso a conhecimento especializado, risco, controlo, flexibilidade, rapidez de resposta, segurança dos dados, diferenciação, e obviamente o tema “custo” que muitas vezes é analisado de forma redutora.
Mas estas decisões não podem ser descontextualizadas do conjunto de desafios que se colocam à equipa do CIO, pelo que existem três tópicos de reflexão que acredito estarem na agenda para 2021:
1. A gestão do risco é hoje uma prioridade de qualquer organização e a diversificação de fontes de competências e serviços é a única forma de o reduzir
2. A dependência da tecnologia e a sofisticação nas organizações aumenta a complexidade na sua gestão, sendo fundamental o acesso a uma pool de recursos muito diversificada
3. Os custos competitivos e a diferenciação são dois objetivos que o CIO tem de conciliar em resposta às solicitações dos seus pares, responsáveis pelo negócio, o que reforça o investimento que a equipa de tecnologia tem de fazer no conhecimento das prioridades de negócio, estabelecendo uma forte aliança com estas áreas.
Gestão do Risco
O ano de 2020 colocou no centro da agenda a necessidade de garantir a existência de sólidos planos de continuidade de negócio que considerem todo o ecossistema onde a organização funciona. Este é um tópico central para 2021 e demostrou a fragilidade de alguns processos críticos nas organizações com dependência única de pessoas, infraestruturas, e prestadores de serviços. É hoje um imperativo de negócio assegurar tanto a redundância como as alternativas que em alguns casos também devem ter em conta a localização geográfica dos recursos utilizados.
Aumento da complexidade tecnológica
A resposta que todos os setores de atividade encontraram para lidar com a pandemia foi um reforço nos investimentos em tecnologia que terá continuidade em 2021. Assistimos a uma crescente adoção de serviços em cloud por forma a escalar a rápida implementação de aplicações e serviços, fundamentais para uma força de trabalho deslocalizada e ao aumento massivo na utilização de canais digitais de relacionamento com parceiros e clientes. Este cenário exponencia a complexidade dos ambientes tecnológicos que têm de ser geridos, cumprindo normas de privacidade e assegurando uma adequada proteção de ponto de vista de cibersegurança. O principal desafio passa a ser a integração e a articulação de diferentes serviços e equipas, internas e externas, por forma a reduzir o atrito e zonas cinzentas do ponto de vista de responsabilidade.
Reduzir custo ou entregar um serviço diferenciado de elevada qualidade?
Quando a pergunta é hoje formulada a qualquer responsável de negócio, a resposta sem hesitação é: as duas! Esta realidade obriga as equipas de tecnologia a equilibrarem o seu investimento entre a operação e o desenvolvimento de novas soluções, sabendo igualmente que a variável tempo foi brutalmente comprimida pela dinâmica de mercado que se gerou na reposta à pandemia. A existência de amplo trabalho de equipa entre áreas de negócio e tecnologia já não é somente algo desejável, mas sim uma exigência incontornável.
A existência de amplo trabalho de equipa entre áreas de negócio e tecnologia já não é somente algo desejável, mas sim uma exigência incontornável.
Mais do que adoção de metodologias de desenvolvimento ou organizacionais “agile”, é fundamental uma cultura de partilha de risco e de colaboração que pressupõe que os todos os responsáveis chave da organização têm simultaneamente, cultura tecnológica e conhecimento de negócio suficiente para poderem assumir os compromissos necessários à execução da estratégia.
Perante este cenário, emergem duas prioridades da equipa de tecnologia que não podem ser terceirizadas e que devem condicionar as suas decisões:
1. O acompanhamento constante das equipas de negócio para encontrar as melhores soluções tecnológicas que garantam a competitividade da empresa, executando a estratégia definida.
2. Assegurar uma nova gestão de parceiros tecnológicos com o objetivo de contruir um ecossistema de talento expandido, que concilie fabricantes, consultores, integradores e start-ups.
É fundamental que estas atividades tenham os recursos necessários e não sejam subalternizadas pela dinâmica de curto prazo e pela tentação de focar a equipa do CIO simplesmente em atividades de desenvolvimento e operação.
O sucesso de cada empresa depende cada vez mais da sua capacidade de mobilizar o melhor talento disponível no mercado e de o alinhar com os seus objetivos de negócio, com relações de médio prazo. A criação desta rede deve ser um objetivo central e a sua dimensão ajustada às capacidades da empresa sabendo que o número exponencia a complexidade da sua gestão.
O sucesso de cada empresa depende cada vez mais da sua capacidade de mobilizar o melhor talento disponível no mercado e de o alinhar com os seus objetivos de negócio, com relações de médio prazo.
Este modelo quando corretamente aplicado consegue otimizar a gestão de risco e acesso a talento e inovação que hoje qualquer organização, independentemente do seu tamanho, não consegue de forma isolada.
Na operação temos de estar preparados para trabalhar com equipas diversas, em múltiplas localizações geográficas, algo que se banalizou durante 2020. O compromisso de todos é obtido pelo alinhamento em torno de um propósito comum e isso não depende de um vínculo laboral clássico, como os novos modelos de negócio baseados em plataformas já o demonstraram. No entanto é fundamental garantir uma comunicação efetiva e permanente por forma a que se consiga um sentimento de pertença, e partilha de objetivos. A criação de uma cultura própria forte é fundamental e deverá ser estendida aos parceiros e assimilada por estes sendo este um aspeto fundamental na sua seleção, a par da competência técnica.
A qualidade da rede de conhecimento e de acesso à tecnologia deverá ser o principal recurso da equipa do CIO, resistindo à tentação do DYI (Do It Yourself).