Prestes a fazer oito anos como primeiro-ministro, o tempo normal de duas legislaturas, é difícil eleger uma herança económica óbvia de António Costa. Paradoxalmente, o homem que contribuiu para derrubar o muro político à sua esquerda parece acabar isolado numa maioria absoluta sem grande ímpeto reformista, seja por falta de vontade ou de capacidade política, seja pela necessidade de acorrer a sucessivas emergências, como a pandemia e a guerra na Ucrânia. Sobra o controlo das contas públicas. Um legado inesperado e, até agora, com dividendos eleitorais surpreendentes. Se terminar o seu mandato, António Costa será o primeiro-ministro que mais tempo esteve no poder em democracia. É de um tesoureiro rigoroso que vamos lembrar-nos?
“É a única coisa que me vem à cabeça”, responde Luís Aguiar-Conraria, professor de Economia na Universidade do Minho. “E é um feito importante. A situação orçamental que vivíamos em Portugal até à vinda da Troika era uma falha da nossa democracia. Nunca tivemos excedentes. Era aplicar Keynes ao contrário. A ideia é aumentar os défices em recessão, mas também reforçar os excedentes em períodos de expansão.”