O Estado está, desde a pandemia, a distribuir cheques às famílias, há controlos light sobre preços de certos bens energéticos, a União Europeia emite dívida em conjunto e a OCDE aprovou um imposto mínimo sobre multinacionais. Ah! E Gabriel Zucman, discípulo de Thomas Piketty, recebeu a Medalha Clark, celebrando o seu trabalho sobre desigualdade, impostos e offshores. Todos estes desenvolvimentos têm em comum o facto de serem impensáveis há apenas alguns anos. Episódios soltos ou sintoma de que algo está a mudar?
Para Zucman, o motivo da popularidade dos temas que investiga explica-se com transformações no tecido social. Embora reconheça que existiam limitações de dados no passado, nota que alguns desenvolvimentos se foram tornando demasiado óbvios, como é o caso do registo de lucros por multinacionais em jurisdições fiscalmente mais favoráveis e, especialmente, o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres. “A principal [razão] é a maior desigualdade de rendimento e de riqueza, o que significa que temos de encontrar novas formas de tributação que sejam capazes de atuar sobre esta dinâmica”, explica, nestas páginas.