Muito do que escolhemos fazer no nosso quotidiano é, de uma maneira ou outra, impulsionado por dados recolhidos – do nosso smartphone ou tablet, GPS do carro, computador. Os anúncios que nos são dirigidos e que nos influenciam a planear a próxima viagem ou a comprar o próximo móvel da nossa casa vivem dessa informação.
Faz por isso sentido que também as empresas, e sobretudo a liderança destas, esteja cada vez mais ligada aos ventos que a informação sopra. Temos testemunhado a transformação dos dados, que passaram de simples registos a ativos estratégicos, moldando o curso das nossas operações e direcionando as escolhas que fazemos com uma precisão sem precedentes. Tomar uma decisão executiva ao nível corporativo, nos dias de hoje, é uma tarefa cada vez mais complexa e com repercussões crescentemente expressivas. Em
média, a tomada de decisões custa às empresas pelo menos 3% dos lucros, segundo um estudo da Harvard Business Review; estas estendem-se desde práticas de gestão financeira à relação com clientes, todas estas dimensões diretamente impactadas.
Da minha experiência, a habilidade de prever tendências, antecipar demanda e identificar oportunidades latentes tem-se revelado como o fator que separa as águas do sucesso e da estagnação. Cada byte de informação colhido e processado é um alicerce para estratégias sólidas, permitindo a adoção de uma posição proativa no mercado, respondendo a desafios e capitalizando oportunidades com rapidez ímpar. A evolução dos modelos preditivos tem desempenhado um papel crucial nesta transformação.
A barreira da interpretação que colocávamos nos computadores inicialmente tem vindo a ser derrubada com a ajuda da tão (e bem) louvada ascensão da Inteligência Artificial; este fator tem, de facto, vindo a contribuir
gradualmente para processos, protocolos e metodologias mais eficientes e otimizadas. Porém, visto que tudo isto é dependente dos dados produzidos pela própria empresa, a frase cunhada por Carly Fiorina, antiga CEO da HP, ainda ecoa com relevância: “a meta é transformar dados em informação e informação em decisões”.
Contudo, é imperativo reconhecer que a eficácia da Inteligência Artificial está intrinsecamente ligada à qualidade e integridade dos dados que a alimentam. Tem que se anexar uma responsabilidade de garantia quanto à precisão e segurança dessas informações é crucial. A confiança depositada nestas tecnologias para orientar as decisões que tomamos exige uma abordagem ética e transparente, assegurando que os dados nos servem como aliados fiéis e não como fonte de viés ou desinformação.
A proliferação de desinformação e a criação de deep fakes são preocupações prementes que não podem ser ignoradas. Além disso, a conformidade com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) é fundamental para proteger a privacidade dos indivíduos e evitar o abuso.
A compreensão, o destrinçar e a ação perante esta informação continuam a nosso cargo, e acredito que assim continuará a ser no futuro que nos é visível no horizonte. Ainda que cada transação, interação e métrica se traduza em valiosos insights (conforme a gíria empresarial), e forneçam a bússola necessária para navegar os mares complexos dos negócios contemporâneos, o fator humano será chamado a encontrar os padrões mais escondidos e ajustar estratégias em conformidade com necessidades. As máquinas ainda não conseguem ter a capacidade de visão, sobretudo ao nível de impacto dos desenvolvimentos na sociedade, e por isso continuaremos ao leme dessa frente.
Perante este cenário, vislumbro um futuro em que a parceria entre líderes visionários e a IA, alimentada por dados fiáveis, será a chave para desbravar novos horizontes nos negócios. Ao abraçar plenamente a revolução dos dados, estaremos não apenas a otimizar as nossas operações, mas a moldar o curso e a dimensão do impacto que queremos ter, à medida que procuramos chegar a novos portos de progresso junto da sociedade.