Que o mercado de arrendamento é escasso e ineficiente e que as rendas são altas em Portugal já todos sabemos, e isso tem até sido tema da campanha eleitoral em curso. Mas o problema não está só, naturalmente, no valor pedido pelos senhorios, mas da conjugação deste com os rendimentos dos portugueses. Isso mesmo é comprovado por um estudo da revista The Economist, que mostra que Lisboa compara muito mal com as restantes grandes cidades europeias.
A revista analisa 35 grandes cidades – sendo Lisboa a única portuguesa. E a conclusão é que, cruzando o preço médio de arrendamento de um T1 com o salário médio de quem trabalha na cidade (para ter em conta aqueles que não vivem lá mas eventualmente o fariam, se pudessem), só há dois exemplos piores que Lisboa: Budapeste (onde o arrendamento é mais inacessível) e Praga. No extremo oposto estão três cidades alemãs: Bona, Berna e Karlsruhe. Seguem-se Lyon, Bruxelas e Haia neste espectro das cidades onde é mais acessível arrendar.
A Economist chamou a este estudo o “Indicador Bradshaw”, assim batizado em homenagem à personagem central da série Sexo e a Cidade, que vivia em Nova Iorque. Aliás, o mercado americano foi o primeiro a ser analisado desta forma, com os dados da Europa a serem conhecidos agora. Segundo a revista, “arrendar sozinho em ambas as cidades [Budapeste e Lisboa] é quase tão difícil como é em Nova Iorque, por relação com os salários médios”.
Como referência para toda a análise – e também para a capital portuguesa – a Economist usou dados do Eurostat e da ERI Economic Research Institute, um agregador de informação sobre salários. Na composição do índice é calculado: o valor médio do arrendamento de um T1; o salário que é necessário para pagar confortavelmente essa renda (cumprindo a regra de prudência que diz que custo com a renda deve ser de até 30% do salário bruto); e diferença entre esse salário “suficiente” com o salário real. No caso de Lisboa, o salário real é pouco mais de metade do que teria de ser para que 30% dele fosse suficiente para arrendar um T1.
Olhando para as 12 cidades do estudo onde é preciso ganhar mais para arrendar confortavelmente, quase todas têm valores de renda considerada “suportável” superiores (mais caras) a Lisboa; no entanto, nenhuma tem salários reais tão baixos, o que explica o resultado final, que mede essa diferença.