Já devíamos saber, antecipadamente, que o assunto que nos levou ao Martinhal Chiado, parceiro da EXAME na Girl Talk, era demasiado extenso para se esgotar nos 50 minutos que tínhamos à disposição. Ainda assim, arriscámos. Filipa Meireles é responsável de recrutamento da Capgemini Portugal e Renata Morgado Eckman é responsável de Recursos Humanos da AstraZeneca Portugal. Ambas as empresas integram a lista das Melhores Empresas para Trabalhar em Portugal, iniciativa histórica da EXAME, com a AstraZeneca a ocupar o primeiro lugar e a Capgemini, o terceiro.
Para estas experientes profissionais da área, os desafios que as organizações enfrentam hoje em dia são elevados, mas as oportunidades não lhes ficam atrás. E, numa altura em que o País se debate com uma crise de falta de recursos humanos, tentámos perceber como conseguimos manter em Portugal o talento que teima em nos fugir.
Primeira premissa: tudo aquilo que se discutiu partiu de uma base que tem de ser óbvia para todos – empresas e Executivo –, que é o facto de as pessoas precisarem de salários confortáveis para viver. Nesse sentido, tanto Renata como Filipa aplaudiram as medidas anunciadas no Orçamento do Estado para 2024, que, “apesar de insuficientes”, dão um passo no caminho certo em relação ao emprego jovem.
E o desafio mais relevante, consideram ambas, é ouvir as pessoas que fazem parte da cada empresa como um ser único e com necessidades particulares – o clássico “as pessoas não são números”. Isto porque, acreditam, é preciso dar a cada colaborador aquilo que o motiva, que o faz crescer, adequando o plano de carreira e os benefícios que respondem às suas ambições em cada momento da sua vida.
Para isto contribuem departamentos de Recursos Humanos atentos, mas também lideranças dispostas a ouvir aquilo que os seus trabalhadores lhes pedem. É essa relação de transparência e honestidade que permitirá, asseguram, que da fase de namoro (ou de contratação) se prossiga para um casamento duradouro entre empresa e colaborador. Para Renata, aliás, a entrevista é um momento crucial, em que a executiva gostava de ver algo que ainda é difícil de implementar: “Gostava que [durante o recrutamento] tanto o candidato como o recrutador estivessem num momento de honestidade, em que dissessem o que é realmente esperado de um e quais as oportunidades; e quais os verdadeiros desejos e receios do outro.”
E ambas são unânimes na necessidade urgente de Portugal olhar para o futuro do mercado de trabalho e antecipar as tendências, “para a que oferta consiga suprir a procura tão diferente que vai existir no mercado daqui a alguns anos”, atira Filipa. Uma conversa que lhe disponibilizamos na íntegra aqui e nas principais plataformas de podcast.
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