As mulheres, que há séculos ficam responsáveis pela gestão dos orçamentos familiares, perdem toda a confiança quando há montantes maiores envolvidos em operações. Mais avessas ao risco e com o peso de uma cultura, que ainda vê com maus olhos mulheres que sabem muito de dinheiro, em Portugal, 72,7% admitem só ter conhecimentos básicos de literacia financeira. Um número preocupante, sobretudo se tivermos em conta que “elas ganham menos do que os homens, vivem por mais tempo, os períodos de licença de maternidade não contam para efeitos de reforma e ficam muito limitadas [em termos de decisão e de liberdade], em situação de divórcio, por exemplo”, atira Emília Vieira.
A responsável pela Casa de Investimentos é uma ativista da literacia financeira. Única mulher à frente de uma gestora de ativos em Portugal, faz questão de ir a escolas falar com os mais novos, para tentar reduzir os níveis de desconhecimento e de desinformação. E salienta que os investimentos feitos por mulheres são, por norma, mais rentáveis – tal como são mais seguras as contas que os homens detêm em conjunto com elas, mostram alguns dados vindos dos EUA, ou as rentabilidades de empresas do S&P geridas por senhoras.
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“Tenho imenso medo”, admite, por seu lado, Rita Piçarra. A ex-CFO da Microsoft Portugal tem estado sob os holofotes, depois de ter anunciado que iria parar de trabalhar aos 44 anos, por ter atingido os objetivos financeiros a que se tinha proposto – e aos quais esperava chegar aos 50. “Sempre que invisto tenho medo, mas invisto na mesma”, atira com uma gargalhada. Em imobiliário, em ações, em produtos que conheça bem e lhe deem segurança. “Acima de tudo, o segredo está em entender aquilo em que estamos a investir”, avisa.
Para isso, é preciso ler, perguntar, pedir informação a quem mais sabe – “cuidado, existe muita gente a falar de literacia financeira em Portugal sem saber do que fala”, alerta Emília. Há que olhar para as taxas de rentabilidade e para os resultados ao longo dos anos e tomar decisões informadas, sem ir apenas atrás do que dizem os bancos, ou os amigos ou os familiares.
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A conversa entre as duas executivas, que durou mais de uma hora e, mais uma vez, aconteceu no Martinhal Chiado, parceiro da EXAME nesta iniciativa, pode agora ser ouvida na íntegra no link que encontra no início deste texto, ou nas habituais plataformas de podcast. Para já, guarde estes dois conselhos: prepare a reforma com uma poupança (feita de investimento), que lhe garanta a rentabilidade e a tranquilidade necessárias para tomar decisões, e procure inspiração nas pessoas que admira e que gostava de ser. Como a Rita, que decidiu deixar de partilhar o seu tempo com uma empresa, porque fez uma série de escolhas que lho permitiram. “E tudo pode começar com uma poupança de 2% do salário!”, sublinham