Já aqui falámos de Filipe e da vontade que tem de fazer coisas acontecer – não é por acaso que o seu projeto no Morgado do Quintão continua a crescer e a ganhar admiradores que nem sabiam que os vinhos algarvios podiam ainda surpreender – e este Anunciada Velha é disso um ótimo exemplo.
A propriedade, situada em Tomar, é herança de família. Pertenceu a várias pessoas antes de se transformar num convento Capucho, corria o século XVI, e no século XIX, entretanto propriedade dos Marqueses de Tomar, recebe a sua primeira vinha – e também o primeiro vinho. Com o I Marquês de Tomar, António Bernardo da Costa Cabral, refugiado no Convento de Cristo por motivos que a História guarda, a Marquesa de Tomar, Luísa Read, precisava de algum entretenimento. Esta nobre habituada à vida na corte está agora sozinha numa Quinta no centro de Portugal, e que melhor para se distrair do que fazer vinho na propriedade que detém?
Luísa Read contratou um enólogo francês, da região da Borgonha, e plantou as vinhas da Quinta da Anunciada Velha. Diz-se, com aquelas certezas que só uma viagem no tempo poderia dar, que era um ótimo vinho. Chamava-se ‘Château Thomar’.
Depois da sua morte, ninguém voltou a aproveitar as uvas para fazer vinho, mas as vinhas continuaram a ser cuidadas por várias gerações. Seria a de Teresa Júdice da Costa – esposa de Filipe – a retomar uma atividade que, até agora, apenas a I Marquesa de Tomar levara a cabo nas vinhas da Anunciada Velha.
O casal chamou João Nunes – enólogo que já esteve envolvido em projetos como o Giz, Alveirão, Symington ou a Taylor’s – para ajudar na empreitada de colocar de novo em garrafa as uvas Castelão e Fernão Pires do Tejo que têm na propriedade.
Foi, precisamente, o Anunciada Velha tinto, 100% Castelão que provámos no outro dia, com a ajuda do Coravin – porque algo nos dizia, ainda quando olhámos para o vinho na garrafa, que era um daqueles que ia precisar de mais tempo.
Não nos enganámos. Um vinho relativamente encorpado, com aromas a amoras, compota de frutos vermelhos e pimenta, deixa-nos sentir um travozinho a chocolate quando o provamos, mas são os frutos vermelhos e algum picante o que mais sobressai. Isso e a acidez da região centro, que não deixa de estar presente – e que ajuda a suavizar a personalidade vincada do Castelão.
É um vinho que precisa de alguma comida para nos saber melhor, mas é uma abordagem muito especial de uma casta que – confesso aqui – não me agrada particularmente. Com potencial de envelhecimento, estou muito curiosa para o provar daqui a mais dois ou três anos – a garrafa voltou a ser guardada, naturalmente, e aguarda ansiosamente a passagem do tempo. Não será um vinho espetacular, mas é certamente um que nos fica na memória pela sua diferença. Este ano a Anunciada Velha produziu 1000 garrafas, e o casal que lidera o projeto garante que não serão ultrapassadas as 5000 garrafas por ano, porque a propriedade continuar a querer-se familiar e um lugar de descanso e encontro.
Se quiser provar, o melhor é entrar em contacto com os proprietários, através do site do Morgado do Quintão, e ver se sobraram algumas garrafas deste ano que passou. Se não, espere até ao próximo que mais hão-de vir.
Já o vinho branco está ali a olhar para nós, mas vamos esperar que o verão chegue para lhe deitar o olho – ou o copo, no caso! A este tinto entregamos um A+.
Escala de Notação Enológica*
| AAA | Fabuloso |
| AA | Muito bom |
| A | Bom |
| BBB | Satisfatório |
| BB | Mau |
| C | Não Beba! |
