Depois de, no início deste ano, ter adquirido a maioria da Vicente Faria Vinhos, S.A., através da aquisição de 60% do capital social da sociedade – a segunda maior empresa exportadora de Vinho do Douro – a Granvinhos aventura-se agora fora da sua região-berço e estende a atividade até aos Vinhos Verdes.
A empresa liderada por Jorge Dias, e dona de marcas como Quinta de Ventozelo, Dalva ou Porto Cruz, comprou a sociedade Agromar, detentora da Quinta de S. Salvador da Torre, num negócio que ficou fechado no final do mês de abril. É um terreno de 37 hectares na região dos Vinhos Verdes, com mais de 400 anos de existência e com uma casa senhorial datada de 1685, cuja recuperação faz parte dos planos da Granvinhos.
Questionado pela EXAME sobre o valor da operação e o investimento que a Granvinhos pretende fazer na propriedade, a curto prazo, Jorge Dias foi taxativo: “As partes não pretendem divulgar o valor da operação e o investimento futuro ainda não está quantificado”.
Recorde-se que, em 2019 o grupo – então conhecido como Gran Cruz – já tinha investido sete milhões de euros na Quinta de Ventozelo, que abriria portas nesse verão. Se o grupo mantiver a filosofia que tem seguido, de uma recuperação cuidada e com planos de longo prazo, espera-se que não seja uma soma menor aquela que deverá estar em cima da mesa.
A Quinta de S. Salvador da Torre, também conhecida por Quinta de Santo Isidoro, tem 30 hectares de vinha com as castas-rainhas da região – Loureiro e Alvarinho – que continuarão a receber o cuidado e a curadoria de Anselmo Mendes. O enólogo, conhecido pela excelência dos Vinhos Verdes, explorava, em parceria com a Agromar, a quinta, e o modelo será mantido durante os próximos anos. “Fui eu que plantei estas vinhas”, diz, orgulhoso, Anselmo Mendes à EXAME.
“Dentro da região de Vinho Verde, estamos no Vale do Lima que, juntamente com o vale de Menção e Melgaço, são os dois [vales] mais importantes. E este é o grande vale do Loureiro, com uma influência atlântica muito forte. A vinda de um grupo grande, com grande capacidade para investir nesta região, é sempre bem-vinda!”, congratula-se aquele que pode bem ser considerado o embaixador da região por excelência. “Há 35 anos que trabalho na região, e há 25 que trabalho com o meu projeto. Costumo dizer, meio a brincar, que andei 25 anos a fazer catequese, e a mostrar que a região tem potencial para fazer grandes vinhos brancos”, pelo que a entrada de empresas como o grupo Symington, o Esporão ou, agora, a Granvinhos, são para Anselmo uma espécie de movimento natural. “Há 4 ou 5 anos que isto já aconteceu do lado de lá [em Espanha]”, salienta.
Amante dos “grandes brancos da Borgonha, dos grandes brancos do mundo, sempre achei que tínhamos condições climáticas e de solo e posicionamento, no noroeste ibérico”, para produzir vinhos de muita qualidade na região do Vinho Verde, sublinha. “Uma zona mais fresca, protegida por montanhas, com influência atlântica e moderada” e que, acredita, “em 2050 ainda estará a produzir vinhos brancos”, apesar das alterações climáticas que estão a obrigar a mudanças profundas em muitas outras regiões.
Este projeto será totalmente independente dos restantes projetos vitivinícolas levados a cabo pela Granvinhos na Quinta de Ventozelo, esclareceu ainda Jorge Dias, que se congratula com a permanência de Anselmo Mendes nas vinhas que tão bem conhece. Os dois empresários são amigos há mais de 30 anos, e este projeto vem assim concretizar uma vontade que ambos alimentavam há já muito tempo de poderem trabalhar em conjunto, salientam ambos.
A Quinta de S. Salvador da Torre irá explorar o potencial da casta Loureiro, explica ainda a Granvinhos, confirmando a intenção de requalificar a propriedade em termos patrimoniais. Para Jorge Dias, o investimento no Vinho Verde acaba por ser uma evolução natural da estratégia de negócio de um grupo que, até agora, tinha raízes exclusivamente no Douro. “Acredito no futuro do Vinho Verde, e em particular das castas Alvarinho e Loureiro, um produto muito bem-adaptado aos novos tempos e hábitos de consumo, que necessita, contudo, de ser valorizado pela ligação às respetivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta ímpar”, diz o diretor-geral da Granvinhos num comunicado a que a EXAME teve acesso.
Os vinhos da Quinta de S. Salvador da Torre terão um posicionamento premium – “há sempre espaço para vinhos mais baratos e mais caros”, nota Anselmo – o que reflete a intenção de retirar todo o potencial tanto das castas quanto do terroir que a Granvinhos tem agora à sua disposição.
O antigo grupo Gran Cruz passa assim, com todas as aquisições realizadas, a comercializar Vinho Verde e Vinho de Lisboa, num total de mais de 4 milhões de garrafas por ano, nota a Granvinhos em comunicado. Recorde-se que a empresa comprou também, às Caves Borlido, a marca Albergaria, criada em 1972, e que comercializa dois dos licores portugueses mais populares no mercado nacional: o Licor de Amêndoa Amarga e o Licor de Ginja, com vendas superiores a um milhão de garrafas por ano.
A organização, que é ainda responsável pelo espaço Porto Cruz, em Gaia – onde o rooftop tenta atrair consumidores cada vez mais jovens para o consumo de vinho do Porto – tem também prevista a construção de uma nova adega em Rodo, no Peso da Régua, com uma capacidade de vinificação superior a 8 mil toneladas de uva, e com tecnologia adaptada à produção quer de vinho do Douro, quer de vinho do Porto. “Esta adega insere-se na Agenda Mobilizadora para a Inovação Empresarial “Vine and Wine Portugal”, que a Granvinhos lidera no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência português (PRR)”, explica a empresa no mesmo documento a que a EXAME teve acesso.