É mais uma novidade da Apple, para já apenas nos Estados Unidos. A gigante norte-americana lançou esta segunda-feira, em parceria com a Goldman Sachs, uma conta de depósito que promete rivalizar com a indústria bancária. A taxa anual é mais de 10 vezes superior à taxa média paga nos EUA, de 0,37%. A tecnológica oferece 4,15%, sem valor mínimo de depósito ou de balanço, sem comissões, e cujos montantes estão garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos.
O anúncio surge apenas três semanas depois do lançamento do serviço “compre agora, pague depois”, que permite parcelar compras realizadas através do cartão Apple em quatro prestações, durante seis semanas, com a possibilidade de pedir um crédito entre $50 e $1.000 para compras online.
O recente reforço da aposta da tecnológica em serviços financeiros é visto pelos analistas como uma forma de fidelizar clientes ao sistema operativo, mais do que uma intenção de diversificar o negócio. “Provavelmente a empresa vê isto mais como uma estratégia para aumentar a fidelização de clientes e não tanto como uma forma de competir com os grandes bancos”, comentava Ted Rossman, analista do Bankrate, em declarações à CNN. “É um plano de fidelização porque se trata de um processo em múltiplos níveis: para ter o cartão de crédito Apple, necessita de ter um iphone, e para ter a conta de depósito precisa do cartão. Isto não é típico – na American Express pode ter um cartão sem sequer abrir uma conta”. Um ecossistema financeiro que, segundo Rossman, reduz o incentivo dos clientes em mudar para o sistema Android.
A Apple oferece ainda a possibilidade de transferir diariamente o dinheiro do sistema cash back para a conta de depósito – 1% em todas as compras; 2% nas compras realizadas através do Apple Pay; e 3% em comerciantes selecionados.
A taxa anual de 4,15% não é a mais alta do mercado – onde a taxa máxima chega aos 4,75%, nos bancos regionais – mas rivaliza com os maiores bancos do sistema. Tal como acontece em Portugal, as maiores instituições financeiras têm-se mostrado reticentes em aumentar as taxas de juro, dada a elevada liquidez de que dispõem. Enquanto os bancos regionais estão sob pressão para reter depósitos – após a falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank – as instituições de referência norte-americanas têm beneficiado dessa fuga, a par de um menor recurso ao crédito por parte dos consumidores.
A entrada progressiva dos grandes gigantes tecnológicos no setor financeiro é há muito falada e vista, por alguns analistas, como uma ameaça no médio prazo aos bancos tradicionais. Isto porque estas empresas já dispõem, de base, de informação ultra-detalhada sobre o comportamento e as compras dos seus clientes, podendo segmentar melhor as suas propostas de produtos financeiros. No entanto, não apenas a regulação é diferente nos vários mercados, como o passo definitivo para a criação de um “banco universal” por parte destas empresas acarretaria exigências de capital de dimensão muito relevante.