A EY pintou o cenário atual. Um contexto repleto de fatores de mudança e de incerteza para os agentes económicos: da guerra na Ucrânia, à escalada dos preços da energia; passando pela tensão de forças entre uma forte inflação e uma (ainda) possível recessão; pela agressividade da resposta dos bancos centrais; sem esquecer a densificação de fronteiras entre o Ocidente e o Oriente, com os necessários riscos associados a um mundo bipolar. Fatores de risco que vão tornar 2023 um ano particularmente desafiante para as empresas e para os quais Hermano Rodrigues, principal na EY-Phartenon, sugere um foco acrescido em oito áreas operacionais.
Perante uma plateia de empresários, reunidos esta quarta-feira na Casa da Música, no Porto, para distinguir as empresas que se destacam entre as 1000 Maiores PME nacionais – uma iniciativa da Exame que segue na sua 28ª edição, com o apoio da Ageas, da Informa D&B e da EY – o especialista começou por destacar a importância da gestão estratégica nas cadeias de abastecimento. Um tema que teve início com a pandemia e que se intensificou com o conflito na Europa, e cuja “gestão da própria geografia do abastecimento para a minimização dos riscos é absolutamente fundamental”, nota Hermano Rodrigues.
Com o fim da era do dinheiro barato vem também a necessidade de maior ponderação nas decisões de investimento. “A análise de viabilidade vai doer muito mais o que, por um lado, é naturalmente mau, mas por outro vai levar certamente a melhores decisões de investimento”. A subida de juros é um reflexo das pressões inflacionistas que vão obrigar as empresas a uma maior eficiência, por conta do impacto da subida de preços no poder de compra dos consumidores, nomeadamente ao nível da gestão de custos operacionais, com destaque para as cadeias de abastecimento.
Por outro lado, o consultor destaca a importância de definir ou redefinir os mercados-alvo dado o recente bipolarismo internacional que aumenta os riscos entre os dois lados da fronteira que opõe o Ocidente ao Oriente; um contexto geopolítico, que somado ao cenário macroeconómico, aumenta a necessidade de avaliar e projetar os cenários possíveis no planeamento estratégico. “Quando a incerteza é grande, a nossa receita é pensar o futuro numa ótica de cenários, tentando projetar o que será uma trajetória normal tendo em conta os acontecimentos e as lições do passado recente”.
No exercício de gestão e planeamento, que se quer a médio e longo-prazo, Hermano Rodrigues nota ainda a importância de alinhar a estratégia das empresas com os objetivos dos stakeholders, ainda que períodos de crise sejam potenciadores de um maior foco nos resultados financeiros do exercício. “As empresas não podem perder de vista aquilo que é o seu valor no médio e longo-prazo. É fundamental pensar no ESG e nos objetivos mais holísticos das organizações”.
Por fim, e num contexto de mudança acelerada, pode ser necessário redefinir a proposta de valor. E dá um exemplo: “Será possível que a lógica da ocupação de espaço para habitação em Portugal continue num modelo histórico de aquisição de imóveis? Tenho muitas dúvidas. No imobiliário, a proposta de valor terá que mudar, obrigatoriamente”.
Sendo certo que não existe uma receita única para todas as empresas, o especialista está confiante de que o atual cenário global “traz enormes oportunidades de crescimento para Portugal e para as empresas portuguesas”, e insta os empresários a olhar para os cenários possíveis “numa ótica mais radical”.