“Prognósticos só no fim do jogo”, mas com o desejo de querer influenciar o resultado final. No último debate da conferência das 1000 maiores PME, dois economistas reconheceram a dificuldade de fazer previsões nesta altura, mas sugeriram uma intervenção diferente da parte do Governo, com uma visão mais estratégica e maior apoio às empresas.
“Em 2022, houve uma tendência para rever em baixa as projeções e agora, no final do ano, há uma tendência no sentido positivo”, aponta António Mendonça, bastonário da Ordem dos Economistas, respondendo a uma pergunta sobre os recentes dados que têm chegado da Europa e que sugerem que pode ser possível evitar uma recessão. Portugal parece também estar a beber desse otimismo. Ainda hoje o primeiro-ministro disse que a economia deve crescer mais do que está previsto.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), nota que a conferência é no Porto, aproveitando para lembrar a célebre frase “prognósticos só no fim do jogo”, dita pelo capitão do FC Porto, João Pinto. “Vivemos um momento de complexidade, que nos aconselha a não fazer previsões. Mas temos de criar condições para um ganho de escala das nossas empresas e não um contexto em que o crescimento das empresas está sempre a ser penalizado. Temos de nos focar nos custos de contexto, na fiscalidade, na burocracia e no funcionamento das instituições”, afirmou.
Para António Mendonça, é fundamental que se recupere uma dimensão estratégica na atuação do Estado, criticando a aposta do Governo em medidas extraordinárias, essencialmente dirigidas aos portugueses mais pobres. “Tenho sérias reservas em relação ao que está a ser feito”, referiu. “Há políticas que não têm coerência entre si. Faltam medidas mais estruturais, que introduzam dinâmicas na economia. Temos um problema nas camadas médias e não tem havido capacidade de responder a esse sector, na fiscalidade e em outras áreas.”
O ex-ministro das Obras Públicas e Transportes concorda com a necessidade de políticas que permitam às empresas ganhar escala e aponta uma contradição na forma como Portugal olha para os seus recursos humanos: “Exportamos mão-de-obra qualificada e importamos mão-de-obra não qualificada.”
Os dois economistas falavam na Casa da Música, no Porto, durante a 28ª edição da cerimónia que distingue as 1000 Maiores PME nacionais, organizada pela EXAME, com o apoio da Ageas, da Informa D&B e da EY. Olhando para 2023, Luís Miguel Ribeiro antecipa que “a indústria continuará a ser o motor do desenvolvimento económico do país”, notando que ela só não tem mais relevância devido à falta de apoio público. O líder da AEP deixa várias críticas ao funcionamento e desenho do PRR, seja o o facto de grande parte das verbas irem para o Estado, seja a burocracia excessiva e atrasos que provoca.
Por último, instado a comentar a sucessão de casos e polémicas no Governo, o bastonário da Ordem dos Economistas reconhece que “não contribuem para a confiança”, mas sugere que não se exagere a sua importância. “Se há coisa boa é que as coisas funcionam. Estamos a discutir coisas marginais, quando devíamos estar a discutir estratégia e planeamento”, voltou a sublinhar. “O país ainda hoje vive de coisas planeadas há 40 ou 50 anos. Estamos a ficar atrasados.”
Em relação a 2023, considera que “o Governo tem margem de manobra e flexibilidade para atender à incerteza ou a acontecimentos imprevisíveis”.