É possível que, dentro de alguns anos, quando o telemóvel tocar, seja a representação física da pessoa que nos chega, em vez de simplesmente a sua voz. O realismo deste cenário dependerá de um conjunto alargado de tecnologias, entre as quais se incluem as tecnologias de Realidade Estendida.
Realidade Estendida (em inglês, Extended Reality, tipicamente abreviado paraXR)designa o conjunto de tecnologias imersivas que combinam ambientes reais e virtuais, onde ocorrem interações entre humanos e máquinas. Este conceito inclui tecnologias como a Realidade Aumentada (Augmented Reality, AR), Realidade Virtual (Virtual Reality, VR) e Realidade Misturada (Mixed Reality, MR).
Embora não seja uma inovação recente – a história da XR tem os seus primeiros capítulos na segunda metade do século passado – os avanços tecnológicos dos últimos anos como o 5G, a computação cloud, o software e hardware gráficos, a Inteligência Artificial e a diminuição progressiva dos custos de produção têm potenciado o desenvolvimento e adoção da Realidade Estendida.
O popular universo do gaming (como o Pokemon Go) e todo o burburinho à volta do conceito de metaverso têm também ajudado a atrair atenção para estas tecnologias. Mas o seu potencial vai muito além do entretenimento: a Realidade Estendida pode vir a transformar permanentemente a maneira como trabalhamos, fazemos compras e negócios, aprendemos, e tantas outras interações e atividades que hoje são possíveis através da internet. São já várias as empresas – Adidas, Air France, BP e H&M, para nomear apenas algumas – que têm vindo a apostar nestas tecnologias, listando-se mais de 450 casos de uso em todo o mundo em áreas tão distintas como vendas, marketing, manutenção, formação, entre outras.
Falamos de um setor cujo crescimento se projeta em 45 vezes ao longo dos próximos 13 anos, de 28 mil milhões de dólares em 2021 para 1.246 mil milhões de dólares em 2035. Se estes números não forem suficientemente convincentes, há que refletir sobre uma tendência inegável: as nossas vidas, os negócios, o mundo, estão cada vez mais digitais – nos últimos 30 anos passámos de não ter internet de todo a trazê-la connosco, no bolso, para qualquer lado. A já ténue linha que separa a nossa vida real da digital ficará ainda mais esbatida quando a internet for uma experiência comum de imersão.
Num cenário assim, grande parte das interações pessoais ou profissionais que temos no dia-a-dia serão mais eficazes: as reuniões virtuais e a chamada “fadiga do Zoom” darão lugar a reuniões imersivas, em ambientes condicentes, com modelos 3D com os quais todos os participantes podem interagir; as formações em sala de aula passarão a sessões imersivas de treino, em ambiente real simulado, permitindo demonstrar visualmente conceitos, experimentação e maior engagement; a experiência de compra online tornar-se-á muito mais confiante, informada e orientada, reduzindo a frequência com que compramos para mais tarde devolver; e a resolução de problemas técnicos deixará de requerer a deslocação de um técnico, passando a fazer-se remotamente de forma assistida. Neste cenário, será também mais fácil sensibilizar para a questão das alterações climáticas, ajudar doentes com dor crónica ou ter mais ferramentas para trabalhar a saúde mental e física.
Naturalmente, existem desafios a vencer: o gap de competências nesta área – estima-se que existam cerca de 3500 profissionais na área da XR em Portugal –, as implicações que estas tecnologias poderão ter na saúde mental e física de quem as utilize de forma continuada, ou as ameaças à privacidade e segurança online que destas poderão decorrer, são alguns exemplos.
No dia 22 de setembro, na Nova SBE, vamos discutir as oportunidades e riscos da Realidade Estendida, contando com a participação de membros relevantes de organizações, assim como de alunos que poderão trazer insights sobre as suas expectativas e preocupações e para o futuro.
O que parece certo é que as tecnologias de realidade estendida têm o potencial de aproximar quem está longe, aumentar a produtividade e promover a eficiência. Numa época em que regressamos gradualmente ao escritório e às viagens em trabalho, relembremos o exemplo do início: qual poderia ser a redução de tempo, dinheiro e pegada de carbono[1] se a próxima reunião com um cliente estrangeiro pudesse ser uma experiência imersiva online?
[1] Estima-se que uma viagem aérea Lisboa – Londres – Lisboa produza cerca de 269 kg de CO2 por passageiro. Para escala, existem 25 países cuja produção anual de CO2 per capita é inferior a este valor.