O projeto Nat Cool nasceu em 2015, quando a Niepoort decidiu dar protagonismo a um movimento que considera fundamental: o do respeito pelo planeta, pela natureza e por uma participação ativa na sua proteção. “É um movimento mundial nascido em Portugal em que a Niepoort dá a cara, mas que a ideia é haver produtores de todo o mundo a fazer o que nós achamos ser um vinho natural, um vinho que não faz mal ao planeta”, explica Dirk Niepoort à EXAME. “As pessoas escolhidas para se juntarem a este movimento são pessoas que têm algum respeito pelo planeta, pela natureza e queremos ativamente fazer qualquer coisa para proteger o planeta. Isso passa indiretamente por um plano biológico, biodinâmico, por fazer as coisas o mais natural possível, mas sem fundamentalismos” continua o responsável pela icónica casa duriense, e representante da 5ª geração da família.
No fundo, os vinhos Nat Cool podem ser produzidos em qualquer parte do País, por produtores que queiram juntar-se – ou sejam convidados a fazê-lo – e apresentam-se como um produto descomplicado, com menor grau alcoólico e em garrafas de litro. Os preços dos vinhos variam entre os €10 e os €20, o que, explica Dirk, ajuda no processo da democratização do produto.
Alinhado com esta descontração, surgiu então o Nat Cool Creative Contest, há 3 anos, que convida artistas (profissionais ou amadores) de todo o mundo a desenhar um rótulo para a garrafa da próxima colheita.
Nas últimas duas edições a Niepoort recebeu propostas de todo o mundo, desde o Peru ao Japão, e com a Europa a marcar forte presença. A edição de 2022 recebe candidaturas até ao próximo dia 30 de junho, e o vencedor deverá ser anunciado no final de julho.
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O júri é constituído por Dirk e Daniel Niepoort, Joana Emídio, Cláudia Guerreiro, Marta Madureira, Paulo Vinhas, José Vieira e Inês Melo e será atribuídos 3 prémios e 2 menções honrosas. Os vencedores receberão um montante especificado em regulamento em vinhos Niepoort à sua escolha, bem como experiências nas Caves do grupo em Gaia e ainda experiências Lexus e prémios Viarco, consoante a classificação.
Para Dirk Niepoort esta é uma forma de reforçar a presença de Portugal no mundo, de uma forma informal e alinhada com os tempos que correm. “Quero por Portugal no mapa. A razão principal é mesmo Portugal. E para ganhar dimensão, temos de trabalhar com o estrangeiro. Mas a razão principal é o posicionamento de Portugal…”, garante.
Temos de ir devagarinho porque Portugal fez muitas asneiras. Os franceses tiveram cuidado – para dar um exemplo de excelência – e Portugal nunca teve, ou então deixou de ter
dirk niepoort
“Tenho algum problema com algumas pessoas que só bebem vinhos naturais, e que dizem que vinhos com defeito são bons”, suspira “mas acho que podemos usar cada vez menos produtos químicos e ouvir mais os velhinhos que faziam muitas coisas naturalmente. No fundo, seguir o princípio de que tiramos da terra mas devolvemos à terra. Apostar ca da vez mais em vinhos não maquinados, mas vinhos autênticos”.
É por isso que, explica, só se podem juntar a este projeto Nat Cool pessoas e empresas que fazem sentido na prossecução destes objetivos. “Há empresas que, por natureza, não fazem sentido, desde a base. E outras que fazem sentido. É uma questão de analisar e definir”, remata.
E garante que “não há expetativa nenhuma em termos de produção ou resultados. É um projeto que nasce, e que vai andando. No nosso caso o resultado tem sido extremamente positivo, e fico quase chocado com o facto de não termos de explicar quase nada. Curiosamente não preciso de explicar quase nada, mesmo sendo uma garrafa de um litro e tal. As pessoas provam o vinho, veem o rotulo e encantam-se com o vinho”, congratula-se.
“Habituámo-nos a vender gato por lebre”
Quanto à eterna questão sobre se o vinho português está ou não subvalorizado no mercado estrangeiro, Dirk é assertivo na análise: “Temos de ir devagarinho porque Portugal fez muitas asneiras. Os franceses tiveram cuidado – para dar um exemplo de excelência – e Portugal nunca teve, ou então deixou de ter. Vendeu as coisas ao desbarato, fechou-se como País do mundo, o cooperativismo nasceu de uma maneira exagerada, a cultura foi “temos de alimentar o povo com pão e vinho”. No fundo destruímos os poucos produtores de excelência” que existiam há 100 ou 120 anos.
“Habituámo-nos a vender gato por lebre. Temos de fazer melhor durante muito tempo para mostrar que realmente Portugal vale a pena. Portugal tem uma vantagem – como ficou a dormir enquanto País, não evoluiu. Portanto hoje temos vinhas velhas, temos uma cultura de castas autóctones que poucos países no mundo têm, somos um tesouro escondido em termos de viticultura. E temos de ter a inteligência de usar essa vantagem. Em vez de replantar tudo, temos de observar bem a rqiueza que temos e tirar proveito disso. O mundo está farto de Cabernet, de Sauvignon…Temos o potencial de nos diferenciarmos e ter vinhos com uma personalidade forte. Veja-se o que está a acontecer com a Bairrada, que estava moribunda e desesperada e agora está toda a gente a olhar para os vinhos porque são diferentes, e têm personalidade. E vê-se gente nova” a fazer coisas muito interessantes. Mas foram muitos anos em que “não construímos nada”, e portanto, acredita, terá de se ter muita paciência até conseguir que Portugal tenha no mundo o lugar que lhe pode pertencer por direito, no que ao vinho diz respeito.
Até lá, Dirk garante que continuará a fazer vinhos e a tentar que o País seja cada vez mais conhecido. Se os rótulos super cool ajudarem, melhor.