Os contactos com várias entidades internacionais interessadas em instalar data centers em Sines vinham a decorrer ao longo do ano passado, sem que existisse nada em concreto. Mas houve uma exceção: no caso da start campus aceleraram rapidamente, com encontros com as autoridades locais e regionais para perceber as possibilidades de investimento, explicou à EXAME o presidente da Câmara Municipal.
As reuniões técnicas da empresa britânico-americana com a CCDR, com o Governo português e a Aicep Global Parques culminaram esta sexta-feira com a assinatura do contrato de localização em Sines, depois de em março o novo megacentro de processamento de dados ter sido considerado Projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN) pela Aicep.
A instalação do Hyperscaler Data Centre, que vai implicar um investimento de até 3,5 mil milhões de euros, foi anunciada hoje com pompa e circunstância. O projeto, promovido pela gestora de ativos norte-americana Davidson Kempner (que comprou crédito malparado ao Novo Banco) e pela britânica Pioneer Point Partners (especializada em investimentos nos setores ambiental e de transição energética), terá capacidade de fornecimento de energia de até 4.500 MW e promete criar até 1.200 postos de trabalho diretos e gerar 8.000 empregos indiretos até 2025.
“Depois do anúncio desta manhã o telefone aqui na Câmara não parou de tocar, alguns por causa dos empregos, o que é natural,” disse Nuno Mascarenhas, o autarca local, esta sexta-feira. Também existem conversações em paralelo com outros interessados em investir nesta área em Sines, mas para já “não passam de intenções”.
O megacentro, que deverá ficar localizado na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS), nas imediações da central de carvão da EDP que foi encerrada no início deste ano, prevê a construção de cinco edifícios, cada um com capacidade de fornecimento de 90 MW de energia aos servidores, segundo o comunicado da empresa. Além das condições de refrigeração com água do mar, do acesso à rede elétrica de alta tensão e da possibilidade de utilizar energias renováveis baratas neste local, o empreendimento viverá sobretudo da posição privilegiada junto ao ponto de ancoragem de cabos submarinos intercontinentais.
“Todo o processo de transição digital não é novo para nós,” diz o autarca à EXAME, por telefone. “Depois de chegar à Câmara Municipal, tivemos em 2015/2016 contactos com empresas que tinham interesse de instalarem em cabos submarinos de dados em Sines, para ligação do continente europeu ao Brasil. É natural que os investidores pudessem começar a olhar para Sines e foi isso que aconteceu,” explica Nuno Mascarenhas.
Como o EllaLink, um cabo de fibra ótica de alta capacidade que liga o continente à Madeira e daí segue para o Brasil, que foi ancorado e ligado em Sines no princípio deste ano. Ou o Equiano, projeto da Google anunciado em 2019 para ligar Portugal à África do Sul, com ramais para vários países africanos. Ou ainda o 2Africa, lançado por um consórcio onde estão China Mobile e Facebook, para ligar 23 países africanos, no Médio Oriente e na Europa, incluindo Portugal.
“Com o encerramento da central elétrica [da EDP] percebemos que a área digital seria o futuro. A pandemia incrementou esta necessidade. Percebemos que, com a procura, os serviços de streaming, gaming e videoconferências eram essenciais”, justifica o presidente da câmara, que espera que o novo empreendimento crie o mesmo efeito de arrastamento da economia que teve a termoelétrica, criando empregos locais em várias áreas, desde a mecânica, à eletricidade, além dos dados.
A construção do novo megacentro (integrado no denominado Sines 4.0, “um dos maiores campus de dados da Europa”) deverá começar no próximo ano, envolvendo 900 pessoas numa primeira fase (pode chegar a 2.700 no total), e o primeiro edifício poderá ser inaugurado em 2023, segundo a start campus.
Durante a cerimónia de apresentação do projeto, primeiro-ministro António Costa, citado pela Lusa, disse que o centro de dados é “um exemplo de excelência de que a transição digital e energética são mesmo uma transição gémea e têm de andar mão na mão, uma com a outra”. A mesma energia renovável barata que atraiu o megacentro de dados foi a que levou ao surgimento nos últimos meses, também em Sines, da intenção de investimento numa central de produção de hidrogénio verde, que poderá ser alimentada a energia eólica e solar.
“Temos tido nos últimos anos uma procura incrível por esses investimentos verdes, na ordem das duas dezenas de projetos. Mas somos limitados em termos de território e temos de apostar nos que são criadores de riqueza e possam alavancar,” diz Nuno Mascarenhas sobre as centrais fotovoltaicas que produzem aquela eletricidade. “Não estamos neste momento a licenciar projetos nesta área, mas há outros nos concelhos vizinhos que estão a avançar. É natural que parte destas centrais fiquem neste concelho, mas também em Santiago do Cacém ou Odemira.”