Considerando os valores de um ano normal, para entrar num Grande Prémio de F1 geralmente são cobrados aos promotores nacionais valores que variam entre os €10 milhões e os €30 milhões de euros, consoante a localização do país e o circuito em causa, sabe a EXAME. Estes valores consideram também que haja presença de público no evento, uma condição que Ni Amorim, presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) garantia em janeiro, em declarações ao jornal Público, ser condição fundamental para voltar a receber em Portimão uma corrida do Grande Prémio de Fórmula 1.
O montante pode, no entanto, cair consideravelmente no caso de as premissas mudarem – a pandemia e o facto de não haver público ou de a lotação ser limitada deverão ser consideradas para eventuais reduções.
Paulo Pinheiro, CEO e acionista da Parkalgar – Autódromo Internacional do Algarve e empresa promotora da prova em Portugal, recusa, no entanto comentar este assunto, atualmente em discussão com a Formula One World Championship (FOWC). “Um contrato de F1 tem uma cláusula de confidencialidade total e eu não posso falar sobre isso”, afirma em declarações à EXAME, garantindo também que no ano passado foi a Parkalgar quem assegurou o pagamento da taxa de entrada na competição. Uma afirmação que contradiz declarações do Ministério da Economia, que em setembro do ano passado garantia à EXAME que não teria havido lugar, naquele ano, a “fee de entrada em qualquer uma das provas”.
Nesse mesmo mês, em entrevista à Lusa, o responsável pelo autódromo reconhecia que nem MotoGP nem Fórmula 1 são rentáveis e que “valem pelo impacto económico que trazem aos países onde decorrem as provas e pela exposição mediática que dão.” “Para o país e para a região é fantástico, para o circuito não. É para o bem público. E como é para o bem público, o que acontece em todo o lado é que é o Estado que paga o ‘fee’ (taxa) de entrada da prova. Porque o retorno que vai receber é muito superior. É um investimento, não é um custo”, disse na altura Paulo Pinheiro.
O responsável recusou ainda avançar à EXAME quaisquer valores que possam vir a ser pedidos ou a ser negociados com o Executivo português para a prova deste ano. Recorde-se que em 2020, e através do Turismo de Portugal, o Governo entrou com uma verba de €1,5 milhões, que serviu sobretudo para asfaltar a pista que nunca tinha recebido um Grande Prémio de Fórmula 1.
Questionado sobre que aplicação poderá ter uma possível contribuição pública para o evento, o responsável da Parkalgar referiu apenas que “um evento desportivo de grande dimensão como é o caso de um GP de F1 traz impacto direto ao País”, além de permitir que a imagem do território seja difundida pelo mundo inteiro, pelo que “os países pagam um determinado valor porque vão beneficiar desse investimento de forma direta ou indireta”.
Recorde-se que, segundo o Executivo, o impacto do GP de Portimão do ano passado terá rondado os €30 milhões, um valor que Paulo Pinheiro considera baixo, escusando-se, no entanto, a avançar qualquer montante alternativo.
Questionado pela EXAME, o Ministério da Economia remeteu para “momento oportuno” mais esclarecimentos sobre este assunto, confirmando apenas estar “em contacto com a organização da prova – como aliás acontece com outras entidades, que organizam provas que podem ajudar à projeção turística do nosso País”, segundo fonte oficial da tutela.
Recorde-se que esta quinta-feira, 12 de fevereiro, a Fórmula 1 anunciou em comunicado oficial que “está confirmado que o regresso ao circuito de Portimão, em Portugal, é a opção preferida para preencher a lacuna” existente no calendário, que tem em aberto o primeiro fim-de-semana de maio, correspondente à terceira prova da temporada.
A decisão foi tomada durante a reunião da Comissão da Fórmula 1, que referiu no mesmo comunicado que “o grupo foi atualizado no espaço ‘TBC’ na versão atual do calendário de 2021. É intenção da Fórmula 1 preencher a vaga com uma corrida em Portimão, em Portugal, nas datas já realizadas no calendário. O acordo final ainda está sujeito a contrato com o promotor”.
A decisão sobre se o contrato se concretiza ou não terá de ser tomada até ao final da próxima semana, revelou ainda Paulo Pinheiro, que confirma que a deliberação está agora do lado de Portugal. Para que isso aconteça, e para além de “várias questões” que estão em cima da mesa e que o responsável se recusou a comentar por estarem ao abrigo da cláusula de confidencialidade, está também a contribuição do Governo. “Há um promotor que é a FOWC que assumiu uma garantia com o promotor Parkalgar, que tem que ter um patamar de conforto para avançar com o contrato. Uma componente desse conforto terá de vir do Governo”, concluiu apenas.
A Parkalgar, cuja participação maioritária pertence a acionistas privados, faturou €12,2 milhões em 2018, último ano para o qual há registo de contas.