No ano passado, o Autódromo Internacional de Portimão recebeu uma das corridas do Grande Prémio de Fórmula 1, depois de a FIA ter cancelado os Grandes Prémios do Canadá, Singapura e China, por exemplo. A forma como o País lidou com a pandemia da COVID-19 terá sido uma das principais razões para trazer o ‘Grande Circo’ de volta a Portugal, 24 anos depois da última grande prova de F1, no Autódromo do Estoril.
Na altura, o Turismo de Portugal fez um investimento, a fundo perdido, na ordem dos €1,5 milhões, que foi direcionado para a repavimentação da pista e que, na ocasião foi justificado com o facto de esta ser uma boa forma de promover Portugal e Portimão, no caso, como o destino ideal para mais etapas do GP de Fórmula 1. No entanto, o calendário revelado esta terça-feira, 12 de janeiro, pela FIA, mostra que os esforços poderão ter sido em vão.
A entidade responsável pelo desporto decidiu atrasar o início da temporada, cuja primeira etapa vai acontecer no Bahrain a 28 de março (e não na Austrália como inicialmente previsto). Segue-se, à partida, o Grande Prémio em Imola, Itália, a 18 de abril e há uma data que ainda está na mira das instituições portuguesas, por ainda não ter destino indicado: 2 de maio de 2021.
A EXAME questionou o Ministério da Economia sobre os eventuais esforços para voltar a trazer uma etapa do GP de Fórmula 1, uma vez que o País não parece ter sido uma primeira escolha da FIA. Fonte oficial do ministério referiu, numa resposta por email, que “o Turismo de Portugal está, continuamente, a avaliar a possibilidade de atrair para Portugal os melhores eventos que possam dar um contributo para a notoriedade e para o posicionamento de Portugal enquanto destino turístico. Sobre a F1, trata-se de um evento global que vai para além da prova em si e que suscita uma projeção mediática imensa em meios de comunicação social internacional, pelo que é natural que estejamos sempre em contacto com a organização desta prova, como de outras que têm projeção internacional”.
Apesar de a resposta deixar todos os cenários em aberto, a verdade é que durante o anúncio oficial do GP do ano passado em Portimão, várias foram as vozes institucionais que revelaram esperar que o evento se repetisse no País depois de se ter conseguido voltar a ter o ‘Grande Circo’ em Portugal. No entanto, recorde-se que o GP de Portimão esteve envolto em polémica, não apenas por ter sido aberto ao público – algo que não foi permitido em grande parte das provas da temporada passada devido às medidas de contingência da pandemia – , mas também porque a organização não foi capaz de controlar os espectadores que não cumpriram as medidas sanitárias obrigatórias.
A agravar a situação, um problema na pista – o asfalto demasiado novo e um dreno solto que acabou por atrasar a qualificação – também não terá deixado a melhor imagem do Autódromo Internacional do Algarve.
Ainda assim, e mesmo com Portugal fora deste primeiro (ou segundo, se tivermos em conta que a prova da Austrália resvalou) calendário apresentado pela FIA, o Ministério da Economia reforça a validade da aposta na prova realizada no ano passado. “O Turismo de Portugal apoiou esta edição da F1 com um montante não reembolsável na ordem dos €1,5 euros, valor orientado para a repavimentação da autódromo. Esta repavimentação foi útil quer para a edição da F1, quer para a edição da Moto GP que lhe seguiu. O impacto direto da prova de F1, que se prende com as receitas turísticas decorrentes da presença física de todos aqueles que participaram no evento – alojamento, alimentação e agências de viagens, foi de cerca de €30 milhões”, repete a mesma fonte oficial.
“Os impactos indiretos foram, no entanto, manifestamente superiores atendendo a que esta é uma das modalidades desportivas mais mediáticas globalmente, ajudando ao reforço do nosso posicionamento e reputação enquanto destino turístico de excelência. Os dados da organização apontavam para uma audiência de 471 milhões de pessoas, só via televisão e com impacto em cerca de 200 mercados diferentes. De referir, finalmente, que a repavimentação do autódromo não se esgotou com as duas provas referidas e é uma importante mais valia para o futuro e para a afirmação internacional do Autódromo de Portimão na manutenção e captação de novos eventos desportivos internacionais”, conclui.
Recorde-se que o argumento do impacto nos setores da hotelaria e da restauração naquela região tinham sido já os apresentados pelos governantes para justificar a realização da prova, em meio de alguns tumultos devido ao cancelamento de outros eventos desportivos e das medidas de restrição que eram vividas no País à época. Na ocasião, o número de infetados em Portugal – bem como na Europa – já estava em trajetória ascendente.