Ainda não era oficial que o Grande Prémio de Fórmula 1 aconteceria em Portimão – tal como foi avançado pela EXAME no início deste mês – nos dias 23 a 25 de outubro, e já se faziam contas a quanto custaria uma prova desta envergadura. A despesa mais premente era, sabia-se, as obras de reconversão da pista do Autódromo Internacional do Algarve (AIA). O que não tinha ainda ficado claro era que seria o Estado a pagar. Foi Paulo Pinheiro, CEO do Autódromo Internacional do Algarve quem levantou o véu sobre o assunto numa entrevista ao Jornal Económico, no início de junho. A EXAME confirmou, entretanto, que as obras serão totalmente asseguradas pelos contribuintes.
Os orçamentos começaram a ser pedidos a empresas nacionais ainda em maio, numa altura em que a FIA ainda tomava a decisão sobre se devia escolher Portimão como lugar para uma das etapas da temporada 2020 e o valor está em cima da mesa: €1,5 milhões é quanto deverá custar a repavimentação da pista, de cerca de 4,6km. Esse é o montante que vai ser totalmente assegurado pelo Turismo de Portugal, “através do Fundo de Apoio ao Turismo e Cinema, um instrumento desenhado para promover a produção cinematográfica e audiovisual e captar grandes eventos internacionais para Portugal”, esclareceu à EXAME a Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.
Questionada sobre por que razão a intervenção de uma estrutura concessionada a privados é paga pelo erário público, a responsável justificou, afirmando que “os apoios que são garantidos pelo Turismo de Portugal com o objetivo de atrair eventos internacionais materializam-se pelo confinamento dos gastos decorrentes da organização desses mesmos eventos, incluindo gastos de natureza tangível ou intangível. Em qualquer evento, o Turismo de Portugal pode financiar custos de aquisição ou aluguer de equipamentos, ou reparações e beneficiações dos espaços, necessários à organização dos eventos apoiados”.
E explicou ainda que “o Fundo foi inicialmente realizado com 30 milhões de euros, e que desse valor, 10 milhões têm vindo a ser aplicados na captação e realização de eventos de grande impacto internacional em Portugal, que promovam a geração de negócio turístico e o aumento de fluxos turísticos”. É deste bolo que sai o valor alocado às obras do AIA.
Rita Marques distanciou-se ainda das declarações de Paulo Pinheiro sobre uma eventual contribuição do Estado no valor de entre 27 a 36 milhões de euros, um valor que foi apontado na já citada entrevista dada pelo gestor ao Jornal Económico. Na ocasião, Pinheiro referia que “a organização de um Grande Prémio de Fórmula 1 implica sempre” um contributo daquela grandeza por parte dos cofres públicos. A Secretária de Estado do Turismo garante que se “desconhece o enquadramento que motivou as declarações” e que o apoio do lado do Turismo de Portugal ficará nos referidos 1,5 milhões de euros.
A EXAME tentou sem sucesso contactar Paulo Pinheiro, para esclarecer estes números e as demais condições do contrato que foi firmado com a Liberty Media, o grupo responsável pelo campeonato do mundo.
Bilheteira sim, mas para os privados
Foi com surpresa que os portugueses descobriram, na passada sexta-feira, aquando do anúncio oficial do GP de Fórmula 1 em Portimão, que a prova teria direito a público “se a situação epidemiológica se mantiver ou evoluir positivamente”. As palavras de Rita Marques à EXAME secundam as de Ni Amorim, presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting, que foi quem anunciou que, à partida, em Portugal seria possível o ‘Grande Circo’ ter direito a espetadores, ao contrário do que aconteceu com as anteriores provas desta temporada.
É nesse contexto que a Secretária de Estado repete que espera que esta prova garanta um retorno mínimo do investimento na ordem dos 30 milhões de euros, “relativos a receitas turísticas (alojamento, alimentação, agências de viagem)”, esclarece.
Quanto às receitas da bilheteira, essas ficarão para os privados, tal como estabelecido contratualmente, afirma ainda. O AIA tem capacidade para 100 mil pessoas ao ar livre, e a “DGS e as demais entidades competentes estão atualmente a trabalhar vários exercícios com diferentes cargas de público, nenhum carga de público nula”, para perceber quantas pessoas poderão, efetivamente, assistir ao GP de Portimão.
Sabe-se já que o preço dos bilhetes varia entre os €225 e os €655 consoante a opção de assistir às provas durante todo o fim-de-semana ou apenas no domingo. Fazendo uma extrapolação simplista, e considerando que a DGS autorizaria apenas a presença de 50 mil pessoas, e que todas elas conseguiriam o preço do bilhete mais baixo (o que também não é possível), teríamos um retorno de bilheteira superior a €11 milhões.
Rita Marques mantém-se otimista com o potencial reflexo do GP na região do Algarve, que está a ser fortemente fustigada com a ausência de turistas internacionais este ano. Há mesmo quem estime que o investimento pode ter um retorno, em receitas turísticas, na ordem dos €100 milhões, se a pandemia continuar a evoluir positivamente em Portugal.