A Islândia encabeça, desde o ano passado, o índice da Pricewaterhousecoopers (PwC) Women in Work Index, que mede a participação das mulheres nas economias mundiais através de cinco indicadores: disparidade salarial, número de mulheres no mercado de trabalho, igualdade de oportunidades, desemprego feminino e percentagem de mulheres com emprego a full-time. A sua média ponderada permite chegar aos resultados divulgados recentemente pela consultora, e que colocam Portugal no 15.º lugar, caindo da 5.ª posição que ocupava no ano 2000, e mantendo exatamente a mesma posição que no ano passado. É apontado como o quarto país com a pior performance entre todas as economias da OCDE desde o início do século. No entanto, é tida como uma das nações que melhor desempenho revelou no aumento da força de trabalho feminino no mercado. O fosso salarial, porém, mantém-se acima do da média de 15% dos países da OCDE: em Portugal, as mulheres ganham, em média, menos 18,9% que os homens.
Os dados são mais pessimistas do que os recentemente revelados pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social, e que denuncia uma diferença salarial de 14,4% – ou cerca de 150 euros mensais.
Na ocasião, a tutela garantia que até ao final do primeiro semestre de 2020 e tal como está previsto na lei, o gabinete de estratégia e planeamento “vai passar a disponibilizar às empresas e à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) um balanço sobre as diferenças remuneratórias entre mulheres e homens por empresa”.
“É a partir dos dados revelados por este balanço que a ACT vai passar a poder notificar, este ano, as empresas com 250 ou mais trabalhadores no sentido de estas adotarem planos de avaliação das diferenças remuneratórias”, indica o ministério liderado por Ana Mendes Godinho.
Liderança continua longe
Dados revelados pela Informa D&B revelam, por seu lado, que as mulheres representam atualmente 29,8% dos cargos de gestão em empresas, um crescimento de 1,3 pontos percentuais quando comparado com 2013. Esse foi o ano em que a UE aprovou uma diretiva que obrigava a maior presença feminina nos órgãos diretivos de empresas, e que foi transposta para Portugal em 2017.
“No entanto, a representação feminina em cargos de gestão continua a ser menor em cargos de maior responsabilidade”, salienta o 10.º estudo “Gestão e Liderança Feminina em Portugal”. Para a diretora geral da Informa D&B, Teresa Cardoso de Menezes, ‘a implementação de legislação tem favorecido o processo de transformação nas empresas de maior dimensão, sendo acompanhada pelo restante tecido empresarial mas de forma mais lenta’.
Segundo a mesma consultora, a maior evolução foi registada nas empresas cotadas, onde a presença feminina nos Conselhos de Administração mais do que duplicou nos últimos sete anos. No último ano, o aumento da representatividade foi mais significativo, ao subir 4,3 pontos percentuais em termos homólogos. Mas ainda assim, Cláudia Azevedo continua a ser a única mulher a liderar uma cotada do PSI 20.
Que razões?
A discussão em torno das razões que levam as mulheres a não conseguir chegar, muitas vezes, aos cargos de topo são diversas e há estudos um pouco para todos os gostos. E se por um lado há uma concordância generalizada sobre o facto de as mulheres terem mais dificuldade em pedirem promoções e aumentos, há também que defenda que muitas empresas nem lhes oferecem cargos de gestão por acharem que “elas não estão disponíveis”.
Há cerca de um ano, Anália Torres defendeu precisamente esse ponto de vista quando, no dia 12 de fevereiro, foi apresentado o estudo “As mulheres em Portugal”, sob a chancela da Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde se tornou claro que as desigualdades continuam sem dar sinais de esbatimento. Porque mesmo quando elas chegam aos cargos de topo, os salários continuam a ser diferentes. Aliás, a conclusão foi precisamente de um estudo liderado pela mesma especialista (“Igualdade de Género ao longo da vida”), apresentado em maio de 2018. Na ocasião, Anália Torres chamava a atenção para o facto de o fosso salarial entre homens e mulheres em Portugal atingir tanto os salários mais elevados como os mais baixos, mas com destaque para uma diferença salarial que ronda os 600 euros nos cargos de liderança.
Em termos de integração no mercado de trabalho, o relatório da PwC estima que se Portugal conseguisse chegar aos níveis de emprego feminino da Suécia (60% das mulheres trabalham a tempo inteiro, e 13% a tempo parcial, enquanto em Portugal esses números se ficam pelos 56% e 6%, respetivamente), poderia conseguir um incremento de 13 mil milhões de euros no PIB nacional.
Em termos globais, a PwC refere que reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres poderia ter um impacto positivo de 2 biliões de dólares nas economias da OCDE, no longo prazo. Em termos de participação das mulheres no mercado de trabalho, se todos os países atingissem os níveis da Suécia, o PIB da OCDE poderia aumentar em 6 biliões de dólares.
“Toda a gente tem interesse em garantir que as mulheres tenham oportunidades iguais no mundo do trabalho. As evidências estão à vista”, atiram as autoras do Índice em jeito de resumo.