Nos últimos 10 anos, os principais mercados financeiros, como o S&P500, DAX e Nikkei, têm registado ganhos, atingindo inclusive máximos históricos, e o sentimento prevalecente tem sido de confiança e otimismo. Mesmo durante fases menos positivas, que também existiram, as perdas não chegaram significar mais de 20% em relação ao último máximo atingido, ou seja, durante a última década temos vivido num Bull Market, que é já o mais longo de sempre. Nesse sentido, começa a ser habitual que, à medida que o tempo passa, no fim de cada ano, quando se perspetiva o que poderá acontecer durante os doze meses seguintes, tenhamos todos um pouco a tendência para ser pessimistas, talvez porque no nosso imaginário coletivo pensemos que o que é bom tende a não durar muito tempo. Mas será que é desta que o novo ano trará consigo a mudança para um Bear Market?
Importa, em primeiro lugar, entender o porquê dos ganhos da última década. A principal justificação está nas políticas de estímulo adotadas pelos principais bancos centrais, como os programas de compra de ativos e flexibilização monetária (a que os mais cínicos chamam de “imprimir dinheiro”), que têm sido absolutamente determinantes para a abundância de liquidez nos mercados, a que se juntam taxas de juro a níveis historicamente baixos. Por outro lado, alguns executivos governamentais, com destaque para os EUA desde a chegada ao poder de Trump, ofereceram incentivos fiscais, o que também tem beneficiado os mercados financeiros. Por último, o ciclo de crescimento económico que se seguiu à grande recessão de 2008 tem tido um efeito contagiante junto dos investidores, contribuindo para um maior apetite pelo risco.
Em 2020, é pouco provável que as políticas monetárias dos principais bancos centrais venham a alterar-se. A tendência é mesmo para um acentuar dos estímulos. Nos Estados Unidos, onde o ciclo económico parece estar a chegar ao fim, o consenso é de que a FED irá baixar as taxas de juro, pelo menos duas vezes durante o próximo ano. Na zona Euro, o BCE lançou recentemente um novo programa de compra de ativos, não se esperando uma mudança de postura nos tempos que se avizinham. O mesmo é verdade para os outros principais bancos centrais.
A maior ameaça ao sentimento positivo que se vive nos mercados será o impacto que as disputas comerciais entre os EUA e a China poderão ter sobre o crescimento da economia global. Uma escalada na tensão entre os dois gigantes, a ocorrer, pode virar o sentimento dos investidores; também um Brexit mal resolvido tem o potencial de despoletar um sentimento de aversão ao risco, levando-nos para um Bear Market. No entanto, pensando de forma realista, o mais provável é que, em ano de eleições nos EUA, um acordo de princípio seja assinado entre Trump e Xi Jimping, melhorando as perspetivas de crescimento, sobretudo para as economias exportadoras, como a alemã, e alimentando o sentimento positivo nos mercados. No caso do Brexit, o cenário de base, neste momento, é o de uma saída ordeira em janeiro de 2020, seguida por negociações para um acordo comercial entre a União Europeia e o Reino Unido, que, em período pós-eleições britânicas, deverão decorrer de forma construtiva.
Depois de um primeiro trimestre menos favorável, o crescimento da economia global irá de novo acelerar, devido a boas notícias relativas ao amenizar das disputas comerciais e à efetivação do Brexit. Além disso, a Fed irá reiniciar o ciclo de estímulo e, na Europa, verificar-se-á um acentuar dos esforços para ativar a integração e a solidariedade fiscal. Por estes motivos, acredito que em 2020 iremos assistir a uma continuação do Bull Market nos principais mercados financeiros.