Pode um vinho sobreviver sem marketing? À primeira vista todos diríamos que sim. Grandes vinhos de casas e enólogos de renome, com produções limitadas, que mesmo a preços elevados, esgotam colheita atrás de colheita, não precisarão de nenhuma estratégia de marketing. Vendem-se por si só. Ou podemos ainda assim argumentar que um vinho de produções limitadas e de preços elevados é em si uma estratégia de marketing?
Se durante largos anos fui da opinião de que bastaria assegurar a elevada e consistente qualidade de cada garrafa que colocava no mercado, já hoje rendo-me à realidade de que, num mercado em que a concorrência é cada vez maior, comunicar é absolutamente essencial para a afirmação de todo e qualquer vinho: estando o mesmo no início do seu percurso de vida ou sendo já uma referência no setor, com largos anos de colheitas e uma história de sucesso. E é imprescindível que essa comunicação seja adaptada à marca e ao respetivo público-alvo. Uma espécie de mantra: a cada vinho o seu tipo de marketing.
Poderá ter-se a ideia de que só vinhos de consumo mais regular, facilmente encontrados num supermercado ou num restaurante, usufruem de campanhas de marketing. Refiro-me àqueles casos em que os tradicionais meios de comunicação, mais massivos e de alcance mais alargado, são escolhidos: o ponto de venda, televisão, outdoors… Ou quando falamos de vinhos que apelam a consumidores mais jovens, fortemente presentes no digital, em que naturalmente a aposta recai sobre esses canais de comunicação, bem como em alguns eventos targetizados.
Mas e quando falamos de vinhos mais exclusivos? Aqueles que, ou pelo preço ou pela reduzida quantidade disponível no mercado, guardamos para momentos mais solenes? Esses vinhos ganham com a comunicação, ou esta estaria a banalizá-los? É precisamente aí que, a meu ver, surge o conceito de “enólogo marketeer”. Uma comunicação mais segmentada, que recorre ao boca-a-boca, ao dar-a-provar, à imprensa da especialidade e, essencialmente, aos próprios enólogos enquanto story tellers – qual a génese destes vinhos? O que os torna especiais e exclusivos? Como surge a ideia de os criar? Qual a sua história e estória?
Nestes casos, o enólogo é também marketeer, quando se torna o principal móbil de comunicação dos seus vinhos, quando percebe que um não existe sem o outro.