Pela segunda vez nos seus 12 anos de existência, o iPhone deverá reduzir os preços de venda em alguns países fora dos Estados Unidos da América (EUA). Esta é a forma encontrada pela Apple para fazer face à apreciação do dólar e contrariar a queda nas vendas em mercados-chave para o smartphone, como a China.
O anúncio foi feito esta terça-feira pelo CEO da empresa da maçã, horas depois de a Apple ter confirmado uma queda nas vendas no último trimestre do ano passado. “Decidimos regressar a [preços do iPhone] mais consentâneos com aquilo que eram há um ano, na esperança de que ajudem às vendas nessas zonas,” afirmou Tim Cook em entrevista à Reuters.
O responsável não especificou, no entanto, quais os mercados que serão abrangidos, nem qual a dimensão do corte. Segundo a BBC, que também cita o executivo, a empresa já procedeu a essa redução em janeiro em algumas localizações, “absorvendo parte ou todo o impacto cambial em relação a há um ano.”
O mau desempenho da marca no último trimestre do ano passado – a época do ano tradicionalmente mais forte para a eletrónica de consumo – tinha levado a empresa a fazer a primeira revisão em baixa das perspetivas de vendas em 16 anos. Analistas apontaram na altura como causa para o recuo das vendas, em particular na China, o facto de a marca estar a praticar preços demasiadamente elevados face a produtos semelhantes da concorrência.
A força do dólar evidenciou-se sobretudo em mercados como a Turquia, o Brasil e a China. Neste último, segundo a Reuters, o efeito fez com que um dos modelos mais recentes, o iPhone Xs, tivesse entrado no mercado em setembro a valer o mesmo que o modelo antecessor, o iPhone X. Depois da revisão em baixa das previsões, vários retalhistas no mercado chinês já tinham cortado o preço de venda de iPhones ao público.
Esta terça-feira a Apple reportou as contas do primeiro trimestre fiscal de 2019 (que coincide com os últimos três meses do ano civil de 2018), que se saldaram numa descida de 5% nas vendas em termos homólogos (para $84,3 mil milhões, ou €73,7 mil milhões). No mercado chinês as vendas da Apple tombaram 27% naquele trimestre. Só os mercados americano e Ásia-Pacífico (excluindo China e Japão) registaram subidas nas vendas, enquanto na Europa caíram 3%. O resultado líquido ficou ligeiros 0,5% abaixo do mesmo período do ano passado, mas o lucro por ação subiu 7,5% para $4,18 por título.
Em valor e em dólares as vendas de iPhones foram as únicas a cair entre as categorias de produtos da Apple nos três meses terminados em 31 de dezembro face ao mesmo período de 2017. As receitas obtidas com a venda destes smartphones, que pesam quase dois terços no total do volume de negócios, caíram 15%. Percentualmente, as maiores subidas couberam aos acessórios como o Apple Watch (33%) e aos serviços como o Apple Music ou a App Store (19%), enquanto as vendas de iPad aumentaram 17% e as de computadores Mac subiram 9%, mas não foram suficientes para amortecer a descida no produto-estrela.
Apesar das reduções de preços admitidas em alguns mercados, a previsão de vendas para o primeiro trimestre de 2019 aponta para nova descida em relação ao período homólogo, na ordem dos 3% a 10% segundo o Financial Times. “Esperamos que os fatores que afetaram o desempenho do iPhone no primeiro trimestre [fiscal] tenham também efeito no segundo trimestre,” afirmou o administrador financeiro da Apple, Luca Maestri, que disse esperar que as vendas fora do segmento iPhone continuem a crescer apesar do ambiente macroeconómico mais fraco. Segundo a consultora Canalys, citada pela BBC, o número de smartphones enviados pelos fabricantes aos retalhistas e operadoras recuou 5% em 2018.