As ações da plataforma de streaming de música Spotify inauguraram esta terça-feira a sua presença na bolsa de Nova Iorque, arrancando com cada título a valer 165,9 dólares, o que coloca a avaliação da empresa no início de sessão nos 29,5 mil milhões de dólares. O preço por ação no começo das negociações significa uma subida de 25,6% face aos 132 dólares de preço de referência que foi estabelecido para a entrada.
O interesse dos investidores nos minutos anteriores à negociação empurrou o intervalo de entrada dos valores de entre os 145 e 155 dólares por ação para 167 a 170 dólares. Segundo o The Wall Street Journal, este valor coloca a empresa com a terceira maior capitalização inicial numa operação de entrada em bolsa nos EUA, onde se destacam os 169,4 mil milhões de dólares da Alibaba e os 81,2 mil milhões do Facebook.
A empresa liderada pelo sueco Daniel Ek chega ao mercado de uma forma pouco tradicional, com uma colocação direta de ações (DPO) em vez do levantamento de capital com a emissão de novos títulos, como aconteceria numa operação clássica de oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês). Esta foi também uma das entradas em bolsa mais demoradas: desde a hora de abertura dos mercados até ao momento de formação do preço e arranque da negociação passaram mais de três horas.
A natureza da colocação traz também consigo, pela ausência de bancos de investimento que atuem como estabilizador de preços, uma maior probabilidade de forte volatilidade nas primeiras horas de negociação dos títulos. Ao contrário de um IPO, em que é definido um preço inicial, neste caso há um preço de referência, face ao qual o valor pode ter grandes oscilações.
“É a empresa que deixa que o mercado determine qual deverá ser a sua avaliação,” afirmou à CNBC Kathleen Smith, da Renaissance Capital. Segundo esta especialista, desde o IPO do Alibaba, em 2014, que o mercado não via a colocação em bolsa de uma empresa com a dimensão da Spotify. Neste caso, não há novas ações em bolsa, não há roadshow no mercado, não há processo de bookbuilding nem período de indisponibilidade de ações (quem as tem pode vendê-las de imediato), ao contrário do que ocorre no caso do IPO.
O modelo escolhido para a entrada em bolsa pôs assim os principais bancos de Wall Street à margem da maior parte do processo de listagem, embora a tecnológica tenha recorrido ao Morgan Stanley como conselheiro financeiro e à Citadel Securities, que determinou o preço de abertura e criará mercado para a ação. É assim sobre os ombros da Citadel que deverá pesar a maior responsabilidade neste processo.
Antes da entrada em bolsa, contudo, o Spotify tem mantido em funcionamento um mercado secundário privado, em que as ações existentes – 178,1 milhões de títulos – puderam ir trocando de mãos. Segundo a CNBC, nos últimos três meses foram transacionadas neste mercado mais de 7,8 milhões de ações, representando 4,4% do total. Também neste mercado os preços das ações tiveram fortes oscilações ao longo do mês de março. Do total de ações da empresa, 91% estão disponíveis para negociação.
“Todos os olhos vão estar postos na estrutura de colocação desta empresa e é interessante que a companhia que foi disruptiva na indústria da música faça algo que é igualmente disruptivo em Wall Street,” considera Kathleen Smith.
A Spotify foi fundada em 2006 num pequeno escritório de Riddargatan, Estocolmo, Suécia, e o serviço de música, podcast e difusão de vídeo foi lançado em 7 de outubro de 2008. Daniel Ek, ligado desde criança ao mundo das tecnologias e da música, tem hoje 35 anos e foi um dos fundadores da companhia, tal como o executivo Martin Lorentzon. Já o fundador do serviço de download de músicas Napster, Sean Parker, foi um dos primeiros investidores no Spotify.
“Muitos me perguntaram sobre como me sentia com a ida para a bolsa amanhã. Claro que estou orgulhoso em relação ao que fizemos na última década. Mas o mais importante para mim é que o dia de amanhã não se torne no mais importante para o Spotify,” afirmou Daniel Ek numa carta publicada esta segunda-feira.
A plataforma que conta mais de 160 milhões de utilizadores (70 milhões dos quais subscritores de serviço pago), diz querer diferenciar-se de concorrentes como a Apple, Google ou Amazon e apostar mais em ganhar escala do que em obter lucro. Nos EUA o negócio do streaming de música, core da operação da Spotify, valia em 2016 mais do que o conjunto das receitas de downloads e de venda física de álbuns.