“Temos sido abordados pelo mercado no sentido de haver interesse por parte de alguns investidores em estarem diretamente expostos à área de retalho. Vamos, por isso, começar a estudar cenários de mais uma entrada em bolsa.”
Paulo Azevedo justificou assim, durante a apresentação de contas de 2017, a ideia de o grupo Sonae vir a cotar mais uma empresa em bolsa, tal como anunciado no comunicado enviado esta manhã, 15, para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) : “Como parte da estratégia da Sonae SGPS de proporcionar maior autonomia e foco às empresas do seu portefólio, o Conselho de Administração está atualmente a analisar a possibilidade de listar um portefólio de retalho, no qual a Sonae SGPS irá manter a participação maioritária.”
O presidente do conselho de administração da Sonae reafirmou, porém, que tudo está ainda na fase inicial de estudo. “A questão é que como vamos ter de contactar bancos, escritórios de advogados e falar com possíveis investidores, tivemos de o comunicar já à CMVM”, explicou Paulo Azevedo. Se vão ou não autonomizar de novo o negócio da Modelo Continente – que até 2006 esteve cotada no âmbito do retalho alimentar – terá de se esperar para ver mais adiante. Certamente a possibilidade estará em cima da mesa, mas para já, não foram dados mais pormenores.
No momento, há apenas a “intenção de estudar as oportunidades”, já que há investidores interessados”, com a certeza de que “em nenhum dos cenários se coloca a hipótese” de a Sonae “perder o controle da empresa”, como realçou Ângelo Paupério, co-CEO da empresa. Paupério garantiu ainda que “não há qualquer objetivo ou cenário de spin-off”.
Para Paulo Azevedo, estas “propostas” do mercado vêm ao encontro do que a equipa de gestão quer da Sonae: “autonomizar equipas”, flexibilizar negócios, dando-lhe mais agilidade e capacidade de criar mais valor para os acionistas. “Nunca tivemos medo de ter empresas cotadas e de estarmos sujeitos ás críticas e ás opiniões dos analistas”, disse Paulo Azevedo. Mas nesta fase, não foi ainda tomada qualquer decisão.
Apesar de ter descido os lucros (de 215 para 166 milhões de euros), 2017 foi um ano de crescimento do volume de negócios (de 5,3 para 5,7 mil milhões euros) e de maior rentabilidade para a Sonae. Um “ano feliz”, portanto, apesar de também ter sido “um ano triste” pela morte de Belmiro de Azevedo.
Mas, com uma estratégia consolidada, a Sonae parece estar agora pronta para arrumar melhor uma casa à qual tem acrescentado vários tipos de novos negócios: a aquisição da Salsa, a aposta forte na abertura de lojas na área da saúde e bem estar (Go Natural e clínicas Wells), cibersegurança, um cada vez maior investimento em startup tecnológicas e cada vez mais parcerias (a joint venture entre JD Sprinter e a Sport Zone, que resultou no Iberian Sports Retail Group, o segundo maior retalhista ibérico no desporto) são apenas alguns exemplos.
A Sonae Sierra terá cada vez mais a apetência para gerir centros comerciais e ter apenas uma pequena participação financeira (entre 5 a 10%), uma forma de “reciclar capital”. Outra das sua facetas a explorar será alargar os serviços de engenharia e arquitetura, “uma forma de exportar engenharia portuguesa”, agora que se prepara para concluir mais um hipermercado na Colômbia. “Atualmente, gerimos 7,4 mil milhões, sendo que da Sonae são apenas 1,2 mil milhões”, frisou Paulo Azevedo, referindo-se ao aumento de contratos de gestão realizados.
A dívida também baixou 103 milhões de euros, situando-se agora nos 1,112 mil milhões de euros.
A internacionalização, o alargamento da base de ativos e a continuação da diversificação de investimentos serão sempre os três pilares para o futuro, que “estará pronto para receber novos protagonistas”, num período em que vários conselhos de administração terminam os seus mandatos.