A incerteza é uma variável que pode criar apreensão a muitas empresas. Mas na Luís de Matos Produções, os momentos de indefinição são essenciais para continuar a inovar e a procurar novas oportunidades de negócio. O ilusionista revelou na conferência dedicada às 1000 Maiores PME nacionais – iniciativa da EXAME em parceria com a Informa D&B e a EY, e com o apoio da Ageas Seguros – os truques que tirou da cartola para assegurar a sustentabilidade da sua empresa durante a pandemia.
Contrariamente a muitos nomes do mundo artístico, Luís de Matos optou por lançar a sua empresa em vez de ficar restrito ao modelo de negócio mais comum que passa pela relação entre o artista, o agente e o manager. “O que percebi – estávamos a fazer programas de TV na altura – foi que era importante ter um ativo de pessoas que se vão formando e que era um desperdício perder essas pessoas e dar-lhes segurança, algo que foge ao modelo normal”, disse, numa conversa conduzida por Margarida Vaqueiro Lopes, editora da EXAME. A empresa tem já 29 anos e conta com nove colaboradores.
Luís de Matos vê desvantagens e vantagens nesse modelo. Do lado dos pontos mais negativos está o facto de ter custos fixos num setor em que não “se sabe o dia de amanhã”. Realça que “a única coisa que temos para vender são dias do calendário e é impossível prever faturações no próximo semestre”. A empresa tem tentado mitigar este risco, com a marcação mais antecipada de novos espetáculos e com novas ideias. Já a vantagem, refere o artista, é que esta estrutura permite que se esteja “permanentemente pronto quando a oportunidade surge e esse é o segredo do mundo do espetáculo”.
O número da pandemia
A pandemia de Covid-19, que começou a afetar a Europa no início de 2020, foi um teste à capacidade da equipa de continuar a tirar coelhos da cartola. “O ano estava resolvido, com espetáculos marcados em 24 cidades europeias”, recorda Luís de Matos. O ilusionista ainda realizou um, em Praga, mas, num ápice, perdeu os outros e a receita que lhes estava associada.
No entanto, e quase como se tratasse de um truque de magia, 2020 acabou por ser um ano bastante positivo para a empresa. “A fragilidade em geral, seja da vida ou do negócio, é um motor de superação”, considerou. Realçou que na sua profissão tem de se viver em “alerta permanente” e que a “pandemia serviu para clarificar que a incerteza é motivante”.
“O que fizemos foi olhar para dentro e perceber em que é que este coletivo poderia usar o seu know how se a pandemia durasse cinco anos”, conta. E as ideias começaram a aparecer. O estúdio da empresa foi convertido num drive in para acolher espetáculos; foram feitos espetáculos híbridos que permitiam a interação entre as pessoas que estavam a assistir no teatro e em casa e foi concebido um espetáculo 100% virtual, que pressupunha o envio de material para os participantes e a interação à distância.
A receita obtida com estas criações permitiu à empresa caminhar tranquilamente pela fina corda da crise pandémica. E, na recuperação pós-Covid, a magia aparenta continuar a crescer. O espetáculo Luís de Matos – Impossível ao vivo captou agora mais 15 mil espectadores do que em 2019. E o objetivo passa por continuar a expandir os conceitos e os espetáculos, tanto dentro como fora de portas – razão pela qual o ilusionista ruma a Paris, em novembro deste ano, para se estrear na icónica sala Folies Bergère com o espetáculo “Luis de Matos, impossible sur scène”.