Jonathan Baillie não é facilmente impressionável, até porque é responsável por avaliar e supervisionar todos os projetos que se candidatam ao financiamento da National Geographic Society. Já viu de tudo, mas quando fala do trabalho de João Campos-Silva o seu entusiasmo é evidente: “Cerca de 15% da Terra está protegida e existe um plano para proteger 30%, até 2030. Nos oceanos o valor é menor (entre 5% e 7%), mas já existem estudos suficientes para perceber exatamente o que temos de fazer”, explica. “Agora, sobre os sistemas de água doce sabemos muito pouco. O projeto do João é mesmo o primeiro modelo de sucesso que tivemos. E ainda por cima pode ser facilmente adaptado para outras zonas do mundo, pelo que a sua importância ultrapassa largamente a simples conservação do arapaima.”
Baillie é, também, um dos dez membros do júri dos Rolex Awards for Enterprise, que no ano passado galardoaram o jovem cientista brasileiro pelo trabalho na Amazónia.
O arapaima, ou pirarucu, como os brasileiros o preferem chamar, é um enorme peixe de água doce que se encontra apenas na bacia do Amazonas. Os maiores espécimes chegam a pesar quase 200 quilos e ocupam um papel central na alimentação dos povos indígenas, sendo que a sobre-exploração dos recursos naturais e a pesca furtiva quase o levaram à extinção.
Curiosamente, quando o biólogo João Campos-Silva partiu para a Amazónia, há cerca de 13 anos, o arapaima estava longe de ser uma das suas prioridades: “Queria perceber que espécies de aves estavam mais suscetíveis de extinção, considerando as altas taxas de desmatamento previstas.” Só que, ao fim de algum tempo a viver na selva, percebeu como seria impossível ter “uma Amazónia sustentável, no futuro, se não houver um alinhamento profundo entre conservação da biodiversidade e o bem-estar das populações locais”.
Campos-Silva percebeu que não poderia proteger o arapaima à força, mas apenas se conseguisse transformar essa missão numa tarefa a realizar em conjunto com as comunidades locais. Na verdade, algumas já estavam a fazê-lo, pelo que João apenas sistematizou o processo. “Primeiro, tivemos de estabelecer um período de quarentena de três anos”, para recuperar o número de peixes no rio e, “depois, criámos uma gestão comunitária das pescas, num sistema de quotas e em que todos os lucros são partilhados pela comunidade”.
Com isso conseguiu não só aumentar o número de arapaimas em cerca de 30 vezes, como muitas outras espécies beneficiaram também dessa proteção, “incluindo as tartarugas de água doce, botos, vários outros peixes”. E até jacarés.
“O arapaima é um modelo que nos ajuda a vislumbrar um outro tipo de desenvolvimento para a Amazónia – um desenvolvimento que contempla a proteção da Natureza com a qualidade de vida das comunidades locais, em que a floresta gera muito mais valor estando de pé. Todo o trabalho mais importante é feito por essas comunidades. Elas merecem muito mais os holofotes do que eu”, pede.
De facto, a gestão comunitária já permitiu criar escolas e centros de saúde locais. Os lucros passaram a ser partilhados por toda a comunidade, e, pela primeira vez, as mulheres têm acesso ao seu rendimento, sem depender do marido: “O pirarucu também tem contribuído para a equidade de género.” Olhando para todas as conquistas, sentimo-nos realmente um pouco como Jonathan Baillie: parece impossível não ficar entusiasmado com o projeto e com esta força de vontade.
Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e a organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba mais sobre esta missão comum.